Contam
as antigas lendas francesas relacionadas à descendência de Jesus Cristo e Maria
Madalena que durante a perseguição aos cristãos primitivos ocorrida nos anos
seguintes à crucificação, alguns dos discípulos do Grande Kabir e pessoas
próximas ao Divino Casal fugiram da Judeia em um barco e chegaram à costa sul
da Gália, atual França.
Naquela
modesta embarcação usada para a fuga pelo mar Mediterrâneo estavam os irmãos
Lázaro, Maria Madalena e Marta, juntamente com a mãe dos apóstolos João e
Tiago, chamada Maria Salomé, acompanhados ainda por Maria de Cleófas, a tia de
Jesus, e Maximin d’Aix, um dos setenta e dois discípulos de Jesus Cristo e
famoso evangelizador da região francesa de Aix-en-Provence.
Além
de todos eles, participava desta jornada uma jovem de pele morena, supostamente
vinda do Alto Egito para servir à tia de Jesus como aia. Seu nome era Sara,
quem atualmente vem sendo identificada na literatura sobre a descendência
familiar de Jesus Cristo como sendo sua filha com Maria Madalena.
Esta
tradição ressurgiu com força na década de 1980, graças à obra O Santo Graal e a
Linhagem Sagrada, dos escritores Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln.
Nos últimos anos, as teorias sobre os frutos da união matrimonial celebrada
entre Jesus e sua principal discípula vêm ganhando cada vez mais força no
imaginário popular graças à publicação de novos romances históricos baseados
nas ideias que acabaram sendo popularizadas pelo escritor Dan Brown.
Alguns
autores mais recentes que aproveitam o sucesso do bestseller O Código Da Vinci
e a ideia que identifica o Santo Graal com o Sangue Real dos herdeiros do
Salvador e sua esposa redimida sugerem que Santa Sara, a menina egípcia que
acompanhou os familiares e discípulos de Jesus Cristo na embarcação rumo às
terras francesas, era na verdade a filha do divino casal da Galileia.
Este
é o caso do livro The Woman with the Alabaster Jar: Mary Magdalen and the Holy Grail
(A Mulher com o Vaso de Alabastro: Maria Madalena e o Santo Graal), escrito por
Margaret Starbird e publicado em 1993, contendo a ideia de que Santa Sara é a
filha de Jesus e Madalena, e que este fato seria a autêntica fonte da lenda
associada com a mística de Saintes-Maries-de-la-Mer.
Como
já mencionamos acima, a tradição local afirma que a cidade de
Saintes-Maries-de-la-Mer foi o porto onde os familiares e discípulos de Jesus
desembarcaram de sua fuga pelo Mediterrâneo. No barco estavam as chamadas Três
Marias, Maria Madalena, Maria Salomé e Maria de Cleofas, as três mulheres que
primeiro testemunharam a tumba vazia de Jesus, e cujas relíquias são o foco de
devoção de peregrinos.
Assim
que Jesus foi crucificado, as Três Marias e sua comitiva teriam partido da
cidade egípcia de Alexandria acompanhadas de seu tio, José de Arimateia. As
lendas francesas sustentam que a embarcação chegou ao território que hoje
corresponde ao sul da França, onde havia uma fortaleza chamada Oppidum-Ra. O
local passou logo a ser conhecido como Notre-Dame-de-Ratis, pois Ra se tornou
Ratis (que em latim significa algo como “navegar”), para mais tarde tornar-se
Notre-Dame-de-la-Mer, e no século XIX, Saintes-Maries-de-la-Mer.
Margaret
Starbird afirma que o nome Sara significa “princesa” em hebraico, um forte
indicativo de que ela seria a descendente esquecida do “sang réal”, o sangue
real do Rei dos Judeus. O esquecimento de Sara teria sido consequência da supressão
que o Catolicismo Romano realizou sobre a veneração e a devoção ao Sagrado
Feminino, resultando num desequilíbrio espiritual da doutrina cristã.
Para
a autora, o Cristianismo Primitivo incluía a celebração do chamado Hierosgamos,
que significa “casamento sagrado”, a união sexual divina e divinizante, o mesmo
Sacramento da Câmara Nupcial dos antigos gnósticos, e o Grande Arcano dos
gnósticos contemporâneos, tal como foi ensinado por Samael Aun Weor em sua
extensa obra.
Esta
celebração oferecia um modelo arquetípico do noivo (Jesus Cristo) e da noiva
(Maria Madalena), ensinando a metafísica da união do Espírito Puro (Real Ser
Interior) com a Alma Arrependida (que vai sendo liberta dos Eus Psicológicos),
e a ciência da união sexual entre homem e mulher. Este último corresponde à
mescla inteligente do erótico com o sagrado, um ato religioso capaz de
converter seus adeptos em deuses, ou seja, de levá-los à união com a Divindade
para conhecer seus Mistérios.
Este
modelo de unidade conciliadora da dualidade acabou sendo perdido logo nos
primeiros séculos do Cristianismo, uma verdadeira tragédia espiritual que
acabou excluindo as lideranças femininas, o que era muito comum no tempo dos
primeiros discípulos de Jesus. A autora insiste que tal parceria sagrada é
universal e apenas reflete aquela existente em outras regiões do planeta, em
contextos religiosos muito anteriores ao daquele em que se formou a religião do
Cristo.
Nos
dias atuais, para o bem da retomada do equilíbrio de gêneros na religiosidade
cristã e a revisão da importância da sexualidade para uma espiritualidade
conciliadora do humano com o divino, Santa Sara converteu-se em um instrumento
de oposição aos velhos padrões autoritários e de rigidez hierárquica, onde o
masculino impera à força e às cegas sobre o feminino por puro medo de perder
seu poder e de ser tragado pela sensualidade que secretamente deseja.
E
para o esoterismo gnóstico, Santa Sara representa o fruto maravilhoso deste
casamento divino que acontece no interior de cada discípulo que celebra o
Hierogamos, que recebe o Sacramento da Câmara Nupcial, e que opera com o
Grande Arcano ensinado pelo Gnosticismo nos dias atuais. Este fruto é a alma
cristificada, livre de toda amarra psicológica, das ilusões e dos apegos,
pronta para experimentar a GNOSIS e com ela a VERDADE.
www.sgi.org.br/pt/cristianismo/santa-sara-a...maria-madalena
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