domingo, 31 de março de 2013

CIVILIZAÇÃO CELTA AO CRISTIANISMO

DINASTIA MEROVÍNGIA
 
Nos últimos anos do império em declínio, a maior de todas as ameaças à Igreja Romana surgiu de uma linha real dos desposyni, na Gália. Tratava-se da dinastia merovíngia: descendentes masculinos dos Reis Pescadores, com uma herança feminina sicambra. Os sicambros eram assim chamados por causa de Cambra, uma rainha tribal que vivera aproximadamente em 380 d.C. Eram originariamente da Cítia, norte do mar Negro, sendo chamados de Newmage (Nova Aliança).
 
A Biblioteca Nacional de Paris contém um fac-símile da altamente afamada Fredegar’s Chronicle - uma extensa obra histórica do século VII, da qual o original foi compilado em 35 anos. Uma edição especial do manuscrito de Fredegar’s foi dada de presente à ilustre Corte dos Nibelungos e reconhecida pelas autoridades do Estado como história oficial e completa. Fredegar (que morreu em 660) era um escrivão borgonhês e a sua Crônica abrangia o período dos primeiros dias dos patriarcas hebreus até a era dos reis merovíngios. Ela citava numerosas fontes de informação e referência cruzada, incluindo os escritos de São Jerônimo (tradutor do Antigo Testamento para o latim), do arcebispo Isidoro de Sevilha (autor da Enciclopédia do Conhecimento) e do bispo Gregório de Tours (autor de A História dos Francos).
Fredegar’s Chronicle - Biblioteca Nacional de Paris - fac-símile
 
Em 452 d.C., o bispo Leão I de Roma e um contingente desarmado de monges enfrentaram o temível Átila, o Huno, e seu exército às margens do rio Pó, no norte da Itália. Naquela época, o império de Atila se estendia do Reno até a Asia Central. Suas hordas bem equipadas estavam preparadas com charretes, escadas, catapultas e todo tipo de aparato marcial para atacar Roma. A conversação durou poucos minutos, mas o resultado foi que Atila ordenou a seus homens que saíssem do acampamento e recuassem para o norte. O que de fato se passou entre os dois homens nunca foi revelado, mas, depois do episódio, Leão, o Grande, estaria destinado a exercer poder supremo. Algum tempo antes, em 434 d.C., um enviado do imperador bizantino Teodósio II se defrontara com o temível huno em circunstâncias semelhantes, às margens do rio Morava (sul da moderna Belgrado). Ele deu a Atila o equivalente contemporâneo a milhões de dólares como resgate pela paz no Oriente. O acordo do bispo Leão foi provavelmente o mesmo (ver Malachi Martin, The Decline and Fall of the Roman Church. Também, para uma leitura adicional acerca do assunto, ver Norman J. Buli, The Rise of the Church, Heinemann, Londres, 1967).
 
O Prólogo de Fredegar afirma que suas pesquisas foram mais minuciosas que aquelas dos autores por ele citados. Ele diz: "Julguei necessário ser mais detalhista em minha determinação de alcançar a acuidade... Por isso incluí (como fonte de material para um trabalho futuro) todos os reinados dos reis e sua cronologia".
 
Para desenvolver tal acuidade, Fredegar, que vivia nas graças com a realeza de Borgonha, fez uso de seu privilegiado acesso a uma variedade de registros da Igreja e anais do Estado. Ele conta que os francos sicambros (de onde veio o nome da França) eram assim chamados por causa de seu chefe, Frâncio, morto em 11 a.C.
 
No século IV, os francos sicambros estavam na terra do Reno, para onde tinham se mudado da Panônia (oeste do Danúbio), em 388 d.C., sob a liderança de seus chefes, Genobaud, Marcomer e Sunno. No decorrer do século seguinte, seus exércitos invadiram a Gália romana e dominaram a área que é hoje a Bélgica e o norte da França. Foi nessa ocasião que a filha de Genobaud, Argotta, casou-se com o rei pescador Faramund (419-430 d.C.), freqüentemente citado como o verdadeiro fundador da monarquia francesa. Faramund era neto de Boaz-Anfortas (a quem retomaremos) na sucessão messiânica direta do filho de Josué, Aminadabe (na linhagem de Cristo), que se casou com a filha do rei Lúcio, Eurgen (na linhagem de Arimatéia).

José de Arimatéia, de acordo com alguns pesquisadores, teria ficado de posse do cálice da Santa Ceia, levando-o para a Europa. Este cálice ficou conhecido como o Santo Graal, tão mencionado nas lendas Arturianas.

Faramund, porém, não era o único parceiro conjugal com uma herança messiânica. A própria Argotta descendia da irmã de Lúcio, Athildis, que se casou com o chefe sicambro Marcomer (oitavo na descendência de Frâncio), por volta de 130 d.C. Assim, a sucessão merovíngia, que se originou de Fararnund e Argotta, era duplamente desposyni.

O pai de Argotta, Genobaud, Senhor dos francos, foi o último homem de sua linhagem - portanto, o filho de Faramund e Argotta, Clodion, tornou-se devidamente o próximo Senhor dos francos na Gália. Em 488 d.C., o filho de Clodion, Meroveus, foi proclamado Guardião em Toumai e foi a partir dele que a linhagem ficou famosa como à dinastia mística dos merovíngios, chegando à proeminência de reis dos francos. Eles reinavam não mediante coroação ou nomeação criada, mas por uma tradição aceita que correspondia ao direito messiânico de gerações passadas.

Apesar das cuidadosas genealogias listadas em sua época, a herança de Meroveus é estranhamente obscura nos anais monásticos. Embora fosse o filho legítimo de Clodion, ele é citado pelo historiador Prisco como uma procriação da criatura marinha arcana, o Bistea Neptunis.

Evidentemente, havia algo muito especial acerca do rei Meroveus e de seus sucessores sacerdotais, pois eles recebiam uma veneração especial e eram grandemente conhecidos por seu conhecimento esotérico e habilidades ocultas. No século VI, Gregório de Tours afirmou que os chefes francos na linha feminina sicambra de sua ancestralidade não eram exatamente conhecidos por sua cultura ascética; porém, essa culta dinastia (que ele chamava de "a mais proeminente e nobre linhagem de sua raça") emergiu na antiga tradição dos nazireus para se tomar conhecida como a dinastia dos reis feiticeiros de cabelos compridos.


No Antigo Testamento (Números 6:3,5,13), os nazireus eram judeus, como Simão e Samuel, comprometidos por estritos votos de obrigação: "Abster-se-á de vinho e de bebida forte...
 
Todos os dias do seu voto de nazireado não passará navalha pela cabeça; até que se cumpram os dias para os quais se consagrou ao Senhor, santo será, deixando crescer livremente a cabeleira... Esta é a lei do nazireu".
 
Os votos do nazireu eram válidos durante períodos específicos. Na tradição essênia, os períodos de absoluto celibato também eram implementados. O posto de nazireu-chefe era tradicionalmente ocupado pelo príncipe da coroa de Davi, que usava o preto cerimonial. Nessa capacidade, o chefe real da ordem costumava ser Tiago, o Justo, o irmão de Jesus, e os sucessivos Príncipes à Coroa de Judá, de jure, mantinham o status e suas responsabilidades.

Tiago - o Justo - Irmão de Jesus
 
Independentemente de sua herança judaica, os merovíngios não eram judeus praticantes, tampouco o eram outros cristãos não-romanos cujas crenças tinham se originado do Judaísmo. O bispo católico Gregório de Tours os descreveu como "seguidores de práticas idólatras", mas os merovíngios não eram pagãos no sentido de não serem iluminados. Na prática, seu culto espiritual não era muito diferente dos cultos druidas e eles eram grandemente reverenciados como professores esotéricos, juízes, curandeiros pela fé e clarividentes. Embora fossem intimamente associados aos borgonheses, os merovíngios não eram influenciados pelo arianismo e seu sistema exclusivo não era gaulês/ romano nem teutônico. De fato, dizia-se que era algo inteiramente novo e sua cultura parecia ter surgido do nada.
 
Os reis merovíngios não governavam a terra, nem eram politicamente ativos; as funções governamentais eram realizadas por seus prefeitos do palácio (ministros chefes), enquanto os reis se ocupavam mais das questões militares e sociais. Entre seus principais interesses estavam a educação, a agricultura e o comércio marítimo. Eles eram estudantes ávidos da prática de realeza correta na antiga tradição, e seu modelo reverenciado era o rei Salomão, o filho de Davi.


Suas disciplinas se baseavam muito na escritura do Antigo Testamento, mas, apesar disso, a Igreja Romana os proclamou irreligiosos.

Não só os merovíngios eram próximos dos primeiros nazireus, mas também mantinham outros antigos costumes dos tempos bíblicos. De acordo com a tradição essênia, os meninos "renasciam" aos 12 anos de idade quando, vestindo uma túnica simples, passavam por uma encenação ritualística de nascimento - um Segundo Nascimento (como mencionado anteriormente, em relação a Jesus Justo). Simbolicamente, o menino nascia novamente do ventre de sua mãe e era instalado em sua posição comunitária. A realeza merovíngia seguia uma prática semelhante: os filhos dos reis ganhavam o direito hereditário da realeza dinástica pela iniciação no 12o aniversário. Não havia necessidade de outra coroação, mais tarde. A dinastia não era a de reis "criados", mas sim uma sucessão de reis naturais, cuja intitulação era automática por meio de nomeação santificada. Como já vimos, os merovíngios não eram da descendência de Cristo, mas também descendiam de Tiago (José de Arimatéia) pela irmã e pela filha do rei Lúcio.

O costume essênio do Segundo Nascimento é evidenciado nos Evangelhos, embora de maneira muito obscura, e foi completamente mal compreendido na tradução. Em Lucas 2:1-12, a cerimônia do Segundo Nascimento de Jesus se confunde cronologicamente com seu nascimento real. Como no Evangelho de Mateus, Lucas narra a Natividade (o Primeiro ou verdadeiro nascimento de Jesus) durante os últimos dias do reinado de Herodes, o Grande, que morreu em 4 a.C. Mas Lucas também diz que Cireneu (Quirino) era governador da Síria na época, e que o imperador César Augusto tinha implementado um censo nacional. Na realidade, Cireneu nunca foi governador da Síria enquanto Herodes ainda estava vivo; ele foi nomeado para o cargo em 6 d.C. quando, segundo Josefo em Antiguidades Judaicas, houve uma contagem da população na Judéia conduzida por Cireneu, a pedido de César Augusto. Esse é o único censo registrado na região; na época de Herodes não houve nenhum. O censo foi feito 12 anos depois do Primeiro Nascimento de Jesus (real) - precisamente no ano de seu Segundo Nascimento (iniciatório).

Esse erro foi, por sua vez, responsável pela confusão cronológica que cerca a história de como Jesus se perdeu no Templo quando estava em Jerusalém com seus pais (Lucas 2:41-50). O evento é relatado como se ocorresse quando Jesus tinha 12 anos de idade, mas deveria, na verdade, estar relacionado ao seu "décimo segundo ano". Isso equivaleria a doze anos após seu nascimento na comunidade. Na Páscoa daquele ano, Jesus teria 24 anos (ou 23, de acordo com seu aniversário oficial em setembro). Nessa época, ele estaria passando de iniciado para homem, mas, em vez de acompanhar seus pais às respectivas celebrações, ele ficou para trás para discutir os negócios de seu Pai, sendo seu Pai espiritual, na época, o sacerdote Eliezer Anás.

Durante toda a sua infância, Jesus foi associado a professores e astrônomos brilhantes - em particular, aos Magos filósofos, que eram muito admirados pelos reis merovíngios. Nos tempos merovíngios, os três reis magos da Natividade foram nomeados para se tomarem os santos padroeiros de Cologne, dos francos, recebendo os nomes espúrios de Gaspar, Melquior e Baltazar.

Os reis merovíngios eram renomados feiticeiros ao estilo dos magos samaritanos, e eles acreditavam firmemente nos poderes ocultos do favo de mel. Como o favo de mel é feito naturalmente de prismas hexagonais, os filósofos o consideravam a manifestação da harmonia divina na natureza.

Sua construção era associada à visão interior e à sabedoria, conforme é detalhado em Provérbios 24:13-14: ''Filho meu, saboreia o mel, porque é saudável... Então, sabe que assim é a sabedoria para a tua alma".


Para os merovíngios, a abelha era uma criatura das mais sagradas e, sendo um emblema sagrado da realeza egípcia, ela se tomou um símbolo da sabedoria. Cerca de 300 pequenas abelhas douradas foram encontradas presas ao manto de Childeric I (filho de Meroveus) quando sua tumba foi desenterrada em 1653. Napoleão também as mandou prender na túnica que usou em sua coroação, em 1804. Ele reivindicava seu direito por ser descendente de Tiago de Rohan-Stuardo, o filho natural (legitimado em 1677) de Charles II Stuart, da Grã-Bretanha, com Marguerite, duquesa de Rohan. Os Stuarts, por sua vez, tinham direito a essa distinção porque eles e seus parentes condes da Bretanha descendiam do irmão de Clodion, Fredemundo - portanto (aparentados com os merovíngios), também eram descendentes dos reis pescadores, por Faramund. A abelha merovíngia foi adotada pelos Stuarts exilados na Europa, e as imagens de abelhas ainda são encontradas em alguns copos e jarros de vidro jacobitas.

Quando o filho de Meroveu, Childeric, morreu em 481 d.C., foi sucedido por seu filho de 15 anos, Clóvis.
 

Nos cinco anos que se seguiram, ele conduziu seus exércitos para o sul das Ardenas, expulsando os galo-romanos; de modo que, em 486, seu reino incluía centros como Reims e Troyes. Os romanos conseguiram manter um reino em Soissons, mas Clóvis derrotou seus contingentes, e o govemante romano Siágrio fugiu para a corte dos visigodos, do rei Alaric II. Com isso, Clóvis ameaçou entrar em guerra contra Alaric, e o fugitivo foi entregue para execução. Com vinte e poucos anos de idade, tendo tanto os romanos como os visigodos a seus pés, Clóvis estaria destinado a se tomar a figura mais influente no Ocidente.
 
Naquela época, a Igreja Romana tinha muito medo da crescente popularidade do arianismo na Gália, enquanto o Catolicismo corria sérios riscos de acabar na Europa Ocidental, onde a maioria dos bispos ativos era ariana. Clóvis não era católico nem ariano; por isso, ocorreu à hierarquia romana que a ascensão de Clóvis poderia ser usada em vantagem da Igreja. De fato, inadvertidamente, Clóvis os ajudou ao desposar a princesa de Borgonha, Clotilde, no centro da Madona Negra de Ferrieres.
 
Embora os borgonheses fossem tradicionalmente arianos em suas crenças, Clotilde era católica e se empenhou em evangelizar, pregando a sua versão da Fé. Por algum tempo, ela não conseguiu promover a doutrina para o seu marido, mas sua sorte mudou em 496 d.C. O rei Clóvis e seu exército travaram batalha contra a tribo dos alemães perto de Cologne e, pela primeira vez em sua ilustre carreira militar, o rei merovíngio estava perdendo. Em um momento de desespero, ele invocou o nome de Jesus no mesmo instante em que o rei alemão foi morto. Com a perda de seu líder, os alemães fraquejaram e bateram em retirada; Clotilde não perdeu a oportunidade de afirmar que Jesus tinha causado a vitória merovíngia. Clóvis não estava plenamente convencido disso, mas sua esposa mandou chamar imediatamente Remy, bispo de Reims, e providenciou o batismo de Clóvis.
 
Em sua justa aliança ao líder, cerca de metade dos guerreiros merovíngios seguiram Clóvis até a pia batismal. A notícia de que o alto potentado do Ocidente tinha se tomado católico se espalhou, o que seria de enorme valor para o bispo Anastásio em Roma. Uma grande onda de conversões veio em seguida, e a Igreja Romana foi salva de um colapso quase inevitável. Na verdade, não fosse o batismo do rei Clóvis, a principal religião da Europa Ocidental poderia ser hoje a ariana, em vez da católica. Entretanto, a complacência real não foi uma barganha unilateral; em troca do acordo do rei em ser batizado, as autoridades romanas juraram aliança a ele e a seus descendentes. Prometeram que um novo Santo Império seria estabelecido sob o regime dos merovíngios. Clóvis não tinha motivo para duvidar da sinceridade da aliança romana, mas sem querer ele se tomou o instrumento de uma conspiração por parte dos bispos contra a linhagem messiânica. Com a bênção da Igreja, Clóvis pôde entrar com suas tropas na Borgonha e em Aquitânia. Calcula-se que os arianos seriam obrigados a aceitar o Catolicismo, mas os romanos também tinham em mente algo mais duradouro um plano para manobrar estrategicamente os merovíngios até retirá-los do cenário, deixando o bispo de Roma com poder supremo na Gália.
 
Após uma série de conquistas militares, o rei Clóvis morreu em Paris, com 45 anos de idade. Foi sucedido por seus filhos, Teodorico, Clodomiro, Childebert e Lothar. Nessa época, 511 d.C., o domínio merovíngio estava dividido em reinos separados. Teodorico reinou na Austrásia (de Cologne a Basiléia), com a sede de seu governo em Metz. De Orléans, na Borgonha, Clodomiro supervisionava o vale Loire e oeste de Aquitânia, ao redor de Toulouse e Bordeaux. Childebert foi o sucessor na região do Sena, de Neustria a Armórica (Bretanha), sendo Paris sua capital; e Lothar herdou o reino entre Scheldt e o Somme, com seu centro em Soissons. Essas décadas de governo conjunto foram tempestuosas; os conflitos continuavam contra as tribos góticas, e acabaram permitindo a penetração merovíngia no leste de Aquitânia, sendo Borgonha totalmente absorvida no reino.
 
Lothar foi o último dos quatro irmãos a morrer, em 561, quando já tinha se tornado rei geral. Seus filhos Sigeberto e Chilperic foram os sucessores, e a linhagem de Chilperic se estabeleceu em quatro gerações com Dagoberto II, que se tomou rei da Austrásia em 674. Até então, um conselho de bispos tinha estendido a autoridade e as imunidades da Igreja, ao mesmo tempo que reduzia os poderes de taxação e administração geral por parte da casa real. Conseqüentemente, as províncias-chave do reino merovíngio se viram sob supervisão imediata dos prefeitos do palácio, que, por sua vez, eram aliados íntimos dos bispos católicos. O desmantelamento romano da supremacia merovíngia estava começando.
 
OS PENDRAGONS CORTE DOS REIS PESCADORES
 
Os francos sicambros, de cuja linha feminina tinham surgido os merovíngios, eram associados à Arcádia Grega antes de migrar para as terras do Reno. Como já vimos, eles chamavam a si próprios de Newmage (a Nova Aliança), como os essênios de Qumrã foram, um dia conhecidos. Esse legado arcádico foi o responsável pelo misterioso monstro do mar (o Bistea Neptunis), simbolicamente definido nos registros ancestrais merovíngios. O senhor do mar relevante era o rei Palas, um deus da antiga Arcádia, cujo predecessor fora o grande Oceano. Na verdade, o conceito remonta aos antigos reis da Mesopotâmia, que teriam nascido de Tiâmat, a grande mãe das águas salgadas primordiais.

Dizia-se que o monstro marinho imortal estava sempre encarnado em uma dinastia de antigos reis, cujo símbolo era um peixe. Este se tomou um emblema dos reis merovíngios, junto ao Leão de Judá e à flor-de-lis, que foi introduzida no fim do século V pelo rei Clóvis para denotar a linhagem real da França. Antes disso, o familiar trifólio judaico simbolizava a aliança da circuncisão. Tanto o leão como a flor-de-lis foram posteriormente incorporados às armas reais da Escócia.
 

Nas histórias arturianas, a linhagem soberana de Davi era representada pelos Reis Pescadores da FaIllilia do Graal e a linhagem patriarcal era denotada pelo nome Anfortas, um título simbólico adaptado de In fortis (latim: "em força"). Identificava-se com o nome hebraico Boaz, o bisavô de Davi (também significando "Em força"), que é lembrado na moderna Franco-Maçonaria.

Espanha Medieval. Em uma floresta próxima ao templo do Santo Graal em Monsalvat, Gurnemanz fala a um grupo de jovens cavaleiros sobre Amfortas, o guardião do graal e sua visão na qual um "tolo puro torna-se sábio através da compaixão" se tornará, um dia, o rei do Graal. Seu líder, Amfortas, passa a caminho de seu banho. Seguindo-o está uma mulher estranha e desgrenhada chamada Kundry, que trás um bálsamo para a ferida de Amfortas, que nunca cicatriza e que lhe causa grande sofrimento.

O nome Boaz fora dado ao pilar esquerdo do Templo do rei Salomão (1 Reis 7 :21 e 2 Crônicas 3: 17). Seus capitéis, bem como os capitéis do pilar direito, Jaquim, eram decorados com romãs de bronze (1 Reis 7:41-42 - um símbolo de fertilidade masculina, como vemos em Cântico dos Cânticos 4: 13. Não é por acaso que os famosos quadros de Botticelli, A Madona da Romã e A Madona do Magnificat mostram o menino Jesus segurando uma romã aberta, madura.

Na verdade, de 1483 a 1510, Botticelli (mais exatamente, Sandro Filipepi) foi Nautonnier (timoneiro) do Prieuré Notre Dame de Sião, uma sociedade esotérica com ligações com o Graal. Na tradição do Graal da época de Botticelli, o senhor marinho arcádio, Palas, manifesta-se no rei Penes: "Meu nome é Penes, rei da terra estrangeira e primo próximo de José de Arimatéia". Sua filha, Elaine, era a Portadora do Graal de le Corbenic (le Cors beneicon: o Abençoado em Corpo) e mãe de Galahad por Lancelot deI Acqs.

Nas histórias tradicionais do Graal há uma consistência de nomes de origem judaica (ou aparentemente judaica), tais como Josefes, Lot, Elinant, Galahad, Bron, Urien, Hebron, Penes, Joseus, Jonas e Ban. Em quase todas as lendas, incluindo os relatos posteriores, do século XV, de Sir Thomas Malory, ocorrem digressões acentuadas em relação aos reis pescadores. Além disso, há muitas referências a José de Arimatéia, rei Davi e rei Salomão. Até o sacerdote Judas Macabeu (que morreu em 161 a.C.) é mencionado. Com o passar dos anos, muitos acharam estranho que esse bem-nascido herói sacerdotal da Judéia seja tratado com tanta estima em uma história aparentemente cristã:

"Senhor Cavaleiro', disse ele a Messire Gawain, 'rogo-vos que conquisteis este escudo; do contrário, eu vos conquistarei... Pois ele pertenceu ao melhor cavaleiro de sua fé e que foi sempre... 'mais sábio'.

'Quem, pois, foi ele?' , perguntou Messire Gawain. 'Judas Macabeu foi ele...''Dizeis a verdade', disse Messire Gawain, 'e qual é o vosso nome?' 'Senhor, meu nome é Joseus, e sou da linha de José de Abarimacie. O rei Pelles é meu pai, que se encontra na floresta, e o rei Pescador é meu tio'''.

Alguns historiadores de arte afirmam que as romãs nesses quadros indicam a ressurreição por meio de associações clássicas com a história de Perséfone. Ela era a antiga deusa grega (filha de Zeus e Deméter) que foi levada ao Submundo por Hades (Plutão).

Uma condição para o seu resgate seria que ela passasse apenas uma parte de cada ano subseqüente na superfície da Terra, e que o seu retorno anual fosse marcado pela regeneração da vida natural que caracteriza a primavera. Essa história é uma alegoria do ciclo de crescimento e morte da vegetação e nada tem a ver com a ressurreição física dos mortos. Tal conotação foi dada aos quadros de Botticelli por um sistema temeroso, que desejava esconder os fatos. Botticelli foi um grande estudioso do Graal, um esotérico de autoridade e elaborador de cartas de tarô. Suas sementes de romã representam a fertilidade de acordo com as romãs do Cântico dos Cânticos e os capitéis do Templo de Salomão, que foi construí do cerca de mil anos antes de Jesus ser crucificado.

É sabido que alguns dos cavaleiros atribuídos ao rei Artur eram baseados em personagens reais - particularmente Lancelot, Bors e Lionel, ligados à ramificação del Acqs da FamI1ia do Graal. E quanto aos outros? As indicações são de que muitos tinham origens reais, embora não necessariamente da era arturiana.

Quando a maioria dos romances do Graal foi escrita, na Idade Média, os judeus não eram muito amados na Europa. Dispersados da Palestina, muitos tinham se assentado em várias partes do Ocidente, mas, sem terra para cultivar, eles recorriam ao comércio e às finanças. Tais práticas não eram bem recebidas pelos cristãos, por isso os empréstimos foram proibidos pela Igreja de Roma. Nessas circunstâncias, o rei Edward I mandou expulsar todos os judeus da Inglaterra em 1209, exceto os médicos qualificados. Nesse clima, é evidente que os escritores (na Grã-Bretanha ou na Europa continental) não achariam natural ou politicamente correto usar uma série de nomes que soassem judaicos para seus heróis, cavaleiros e reis locais. Os nomes, porém, persistem, desde aqueles dos antigos protagonistas, como Josefes, até o posterior Galahad.

Nas primeiras histórias do Graal, Galahad era identificado pelo nome hebraico de Gileade. O Gileade original era filho de Micael, o trineto de Nahor, irmão de Abraão (1 Crônicas 5:14). Gileade significa "uma montanha de testemunho"; a montanha chamada monte do Testemunho (Gênesis 31:21-25). Seguindo os passos de Bemardo de Clairvaux, o abade de Lincolnshire, Gilberto da Holanda comparava o Galahad arturiano diretamente com a família de Jesus nos Sermões dos Cânticos cistercienses. Os escritores cristãos não teriam exaltado nomes de herança judaica a altas posições em um ambiente de heróis cavaleiros, a menos que seus nomes já fossem conhecidos e bem estabelecidos. Evidentemente, porém, os personagens tinham algum fundamento histórico, embora sua origem temporal tivesse sido forçosamente alinhada, por causa dos romances.

 
Desde 700 a.C., as tribos celtas (keltoi, significando "estranhos") da Europa Central foram se estabelecendo na Grã-Bretanha e, durante a Idade do Ferro, sua cultura se desenvolveu a um estágio avançado até eles controlarem toda a baixa Grã-Bretanha. Na sucessão dos séculos, a eles se juntaram outras ondas de celtas europeus. Os últimos colonizadores foram os das tribos belgas, que penetraram a região sudeste. Os antigos habitantes se espalharam para o norte e o oeste, estabelecendo lugares como Glastonbury, em Somerset, e Maiden Castle, em Dorset.
 
 
Quando os romanos chegaram nos últimos anos antes de Cristo, os celtas foram deslocados ainda mais para o oeste, apesar de sua longa resistência, com líderes formidáveis como Caractaco e Boudicca (Vitória). Os romanos chamavam os antigos bretões de pretani, um nome derivado da língua cymric, do antigo País de Gales, na qual toda a ilha dos celtas era chamada de B'rith-ain, significando Terra da Aliança.

Os romanos tiveram um sucesso considerável em sua conquista da Grã-Bretanha, mas nunca conseguiram derrotar os pictos da Caledônia, no extremo norte e, por causa disso, o imperador Adriano (117-138 d.C.) construiu uma grande muralha atravessando o país para separar as culturas. Uma maioria celta ao sul da muralha se adaptou ao modo romano de vida, mas seus inflamados primos do norte continuaram lutando, bem como os escoceses gaélicos da Irlanda do Norte.

No País de Gales, os antigos govemantes de Powys e Gwynedd descendiam da Avallach na linhagem de Beli Mawr (Billi, o Grande), um soberano dos bretões no primeiro século a.C. Esse é um bom exemplo de personagem cuja origem temporal é freqüentem ente confusa por causa das fábulas que cresceram em tomo dele. Seu neto era o arquidruida Brân, o Abençoado (genro de José de Arimatéia). Em virtude de sua associação histórica, Beli e Brân costumam ser confundidos com os irmãos de período anterior, Belino e Breno (filhos de Porrex), que disputaram o poder no norte da Grã-Bretanha por volta de 390 a.C. e eram considerados deuses, na velha tradição céltica.

Mais confusão em potencial advém do fato de Brân, o Abençoado, ser freqüentemente citado como pai de Caractaco. Eles eram de fato contemporâneos no primeiro século d.C., mas o pai de Caractaco era Cymbeline de Camulod. A persistente anomalia tem gerado infinitas complicações em livros a respeito das linhagens na Idade das Trevas, mas a causa é facilmente explicada.

O pai de Brân, descendente de Beli Mawr, era o rei Llyr (Lear). Algumas gerações depois, porém, em uma sucessão vinda do rei Lúcio, os nomes se repetiram nos séculos III e IV, quando o chefe galês, Llyr Llediath, era o pai de outro Brân, pai de Caradawc (uma variante do nome Caractaco). Outra causa de confusão está no fato de que Brân, como arquidruida, era o Pai patriarcal designado. Em termos simbólicos, portanto, Brân teria de fato sido o "pai" de Caractaco, assim como Eliezer Anás e Simão Zelote eram os pais espirituais de Jesus na Judéia.

Do nome Beli (ou Billi) é que deriva parcialmente o Billingsgate de Londres. Seu descendente, Avallach, era neto da filha de José de Arimatéia, Ana, esposa do arquidruida Brân, o Abençoado. A própria esposa de José também se chamava Ana (que significa "graça"). Como já discutimos anteriormente, Avallach era um título descritivo e, do mesmo modo, o nome Reli também era titular, denotando um "senhor soberano". Como tal, era repetido na dinastia, e equivalente ao termo bíblico Reli (avô paterno de Jesus).

Outro descendente de Beli Mawr era o rei Llud (de onde o Ludgate de Londres recebeu o nome). Ele foi o progenitor das casas reais de Colchester, Silúria e Strathclyde, e sua família contava com importantes casamentos com a linhagem de Tiago/José de Arimatéia. Dentre os príncipes galeses na sucessão de Arimatéia, surgiram os fundadores e governantes locais da Bretanha, uma região dos francos que antes se chamava Armórica ([terra] de frente para o mar). Outra muita antiga linhagem de Davi, progredindo por Ugaine Mar (século IV a.C.), mantinha o domínio da Irlanda, como os Grandes Reis (Ard Rí) de Tara.

O neto do rei Lud, o poderoso Cymbeline (pai de Caractaco), era o Pendragon da Grã-Bretanha continental durante a época em que Jesus ainda vivia. O Pendragon, ou Dragão Chefe da Ilha (Pen Draco Insularis), era o rei dos reis e guardião da ilha celta. O título não era dinástico; os Pendragons eram nomeados dentre a casta real celta por um conselho druida de anciãos. Cymbeline governava as tribos belgas dos Catuvellauni e Trinovantes, de sua sede em Colchester, o mais impressionante forte da região na Idade Média. Naquela ocasião, Colchester era chamado de Camulod (romanizado como Camulodunum) - do termo celta camuloi, que significa "luz curvada". Esse povoamento fortificado se tomou mais tarde o modelo para a corte de nome semelhante, e de natureza também transiente, de Camelot, no romance arturiano.

A obra francesa do século XIII Sone de Nansai identifica a esposa de José como uma princesa nórdica.

O antiquário de Henrique VIII, John Leland, em 1542 identificou o forte da Idade Média nas montanhas em South Cadbury, Somerset, como Camelot, principalmente porque algumas vilas das proximidades incluíam o nome do rio Camelo Escavações em Cadbury na década de 1960 revelaram os vestigios de uma sala de banquetes da Idade das Trevas, mas embora ela fosse bastante atraente para a indústria do turismo, nada havia nela que pudesse ser associado a Artm: Na verdade, mais de 40 construções de idade e tipo semelhantes foram encontradas só no sudoeste da Inglaterra, e há mais em outros lugares do país. Ver Michael Wood, In Search of the Dark Ages, BBC Books, Londres, 1981, capo 2, p. 50.

Ao norte dos domínios de Cymbeline, em Norfolk, o povo conhecido como iceno era governado pelo rei Prasutago, cuja esposa era a famosa Boudicca (Boadicea). Ela conduziu a grande, porém malsucedida, revolta tribal contra o domínio romano a partir de 60 d.C., usando seu famoso grito de batalha Y gwir erbyn y Byd (A Verdade contra o Mundo). Foi imediatamente em seguida que José de Arimatéia veio da Gália para construir sua igreja em Glastonbury, a despeito do imperialismo romano.

O conceito do dragão - como no Pendragon - em termos de realeza emerge diretamente do crocodilo sagrado (o Messeh) dos egípcios e do Mus-hus da velha Mesopotâmia. Os faraós e os reis babilônios eram ungidos com gordura de crocodilo e, assim, obtinham a fortitude do Messeh, de onde vem o termo hebraico Messias (o ungido). A imagem do intrépido Messeh evoluiu até se tornar o dragão, que por sua vez tornou-se um emblema de realeza poderosa. Os romanos imperiais portavam um dragão purpúreo em seu estandarte, e esse é o símbolo descrito em Apocalipse 12:3, quando Miguel enfrenta o "dragão de sete cabeças".

O dragão nesse exemplo era Roma: conhecida historicamente como a Cidade dos Sete Reis (o número de reis governantes antes da formação da República).

Após a retirada romana da Grã-Bretanha em 410 d.C., a liderança regional se reverteu para os chefes tribais. Um desses foi Vortigem de Powys, no País de Gales, cuja esposa era a filha do ex-govemador de Roma, Magno Máximo. Assumindo pleno controle de Powys até 418 d.C., Vortigem foi eleito Pendragon da ilha em 425 d.C. e usou muito bem o emblema do dragão, que subseqüentemente se tomou o Dragão Vermelho de Gales.

Nessa época, várias ramificações de reis tinham surgido nas linhagens de Arimatéia, de sua filha Ana e do marido dela, Brân, o Abençoado. Entre os mais proeminentes desses reis locais estava Cunedda, o governante nortista de Manau, pelo Estuário de Forth. Numa ramificação familiar paralela, havia o sábio CoeI Hen, líder dos "Homens do Norte" (os Gwyr-y-Gogledd). Lembrado com carinho nas rimas infantis como Velho Rei Cole, ele governou as regiões de Rheged a partir de sua sede em Carlisle (Cumbria), a fortaleza Camu-lot ao norte. Outro notável líder foi Ceretic, descendente do rei Lúcio. De sua sede em Dumbarton, ele governou as regiões de Clydesdale. Junto com Vortigern, esses três reis foram os soberanos mais poderosos na GrãBretanha do século V. Foi das famílias deles que vieram também os santos celtas mais poderosos, e essas famílias ficaram devidamente conhecidas como as Santas Famílias da Grã-Bretanha.

Em meados do século V d.C., Cunedda e seus filhos conduziram seus exércitos até o norte do País de Gales para expulsar colonizadores irlandeses indesejáveis a pedido de Vortigem. Ao fazer isso, Cunedda fundou a Casa Real de Gwynedd na região litorânea galesa a oeste de Powys. Os pictos da Caledônia, no extremo norte, aproveitaram-se da ausência de Cunedda e iniciaram uma série de ataques na fronteira marcada pela muralha de Adriano. Um exército de mercenários germânicos jutos, liderados por Hengest e Horsa, foi imeditamente engajado para repelir os invasores, mas tendo cumprido esse encargo com sucesso, eles voltaram a atenção para o extremo sul e se apoderaram do reino de Kent. Outras tribos germânicas, os anglos e os saxões, subseqüentemente invadiram a Europa. Os saxões tomaram o sul, desenvolvendo os reinos de Wessex, Essex, Middlesex e Sussex, enquanto os anglos ocuparam o resto da região desde o estuário Sevem até a Muralha de Adriano, incluindo Northumbria, Mercia e East Anglia. O conjunto ficou conhecido como Inglaterra (terra dos anglos), e os novos habitantes chamavam a península celta, a oeste, de Gales (em inglês, Wales - derivado de weallas, que significa "estrangeiros").

Como a Irlanda era separada pelo mar da tempestuosa ilha britânica, ela se tomou o perfeito refúgio para monges e eruditos. Alguns dizem que Eire-land (Irlanda) significa "terra da paz", mas o antigo nome derivava mais diretamente de Eire-amhon (pai do rei Irial de Tara), que se casou com Tamar, a filha do rei Zedequias de Judá, por volta de 586 a.C. (Eire também era o nome da esposa Tuatha Dé Danann do rei Ceathur, que reinou na mesma época).

Uma cultura singular e indígena se desenvolveu na forma do Cristianismo celta. Ela surgiu basicamente do Egito, da Síria e da Mesopotâmia com preceitos que eram distintamente nazarenos. A liturgia era em grande parte alexandrina e, como os ensinamentos de Jesus (em vez de sua pessoa) formavam a base da Fé, o conteúdo mosaico do Antigo Testamento foi devidamente mantido. As velhas leis judaicas de casamento eram observadas, bem como as celebrações do Sabá e da Páscoa, enquanto a divindade de Jesus e o dogma romano da Trindade não tinham lugar na doutrina. A Igreja Celtanão tinha bispos diocesanos, mas ficava sob a direção dos abades (anciãos monásticos) e era organizada em cima de uma estrutura de clã, com suas atividades se concentrando na erudição e na aprendizagem.

Cunedda ficou no norte do País de Gales e, após a morte de Vortigem, em 464 d.C., foi o Pendragon seguinte, que também se tornou o comandante militar dos bretões. O detentor desse último cargo tinha o título de o Guletic.

Quando Cunedda morreu, o genro de Vortigern, Brychan de Brecknock, tornou-se o Pendragon, e o Ceretic de Strathclyde, o Guletic militar. Enquanto isso, o neto de Vortigem, Aurélio - um homem de considerável experiência militar - retomou da Bretanha para dar peso às forças contrárias à incursão saxônia. Em sua condição de sacerdote druida, Aurélio era o designado Príncipe do Santuário de Âmbrio - uma câmara sagrada, simbolicamente modelada a partir do Tabernáculo Hebraico (Êxodo 25:8 - "E me farão um santuário para que eu possa habitar no meio deles"). Os Guardiães de Âmbrio recebiam o título individual de Ambrósio e vestiam mantos escarlates. De seu forte em Snowdonia, Aurélio, o Ambrósio, mantinha a defesa militar do Ocidente e foi o próximo Guletic quando Brychan morreu.

No início do século VI, o filho de Brychan (também chamado Brychan) se mudou para o Estuário de Forth como príncipe de Manau. Lá ele fundou outra região de Brecknock em Forfashire, à qual o povo galês se referia como Breichniog no norte. A base de seu pai fora em Brecon, País de Gales - por isso, a fortaleza norte era chamada de Brechin. A filha de Brychan II se casou com o príncipe Gabràn dos escoceses de Dalriada (as terras altas do oeste), o que resultou em Gabràn se tornando senhor do Forth, herdando um castelo em Aberfoyle.

Naquela época, os irlandeses gaélicos estavam em disputa com a casa de Brychan e, sob o comando do rei Cairill de Antrim, lançaram um ataque contra os escoceses de Manau em 514. A invasão foi bem-sucedida e a área do Forth ficou sob controle irlandês. Brychan requisitou a assistência de seu genro, o príncipe Gabràn, e do comandente Guletic, Aurélio. Em vez de tentarem remover os irlandeses de Manau, os líderes decidiram lançar uma ofensiva direta por mar contra Antrim. Em 516, a frota escocesa de Gabràn partiu do Estreito de Jura com as tropas de Aurélio. Seu objetivo era o castelo do rei Cairill, o formidável forte na montanha em Dun Baedàn (Badon Hill). As forças do Guletic foram vitoriosas, e Dun Baedàn foi dominada. Em 560, o cronista Gildas (516-570) escreveu a respeito dessa batalha em sua obra De Excidio COllquestu Britanlliae (A Queda e a Conquista da Grã-Bretanha), e a grande batalha é citada tanto nas crônicas escocesas como nas irlandesas.233 Alguns anos depois da Batalha de Dun Baedàn, Gabràn se tomou rei dos escoceses em 537, montando sua corte das terras altas do oeste em Dunabb, perto de Loch Crinan.

Naquela época, o Pendragon era o bisneto de Cunedda, o rei galês Maelgwyn de Gwynedd. Este foi sucedido nessa nomeação pelo filho do rei Gabràn, Aedàn de Dalriada, que se tomou rei dos escoceses em 574 e foi o primeiro rei britânico a ser instituído com ordenação sacerdotal, quando foi ungido por São Columba.

Nascido na realeza, em 521, Columba tinha o direito de ser rei na Irlanda - mas abandonou seu legado para se tomar monge, freqüentando uma escola eclesiástica em Moville, County Down. Ele fundou mosteiros em Derry e nos arredores, mas sua maior obra estava destinada a ser nas terras altas do oeste e nas ilhas Dalriada dos escoceses, depois que ele foi expulso da Irlanda em 563. Columba formara um exército contra o injusto rei de Sligo, o que culminou em sua prisão em Tara e posterior exílio quando ele tinha 42 anos de idade. Com 12 discípulos, ele partiu para lona e estabeleceu o famoso mosteiro de Columba. Posteriormente, mais ao norte, na Caledônia, a herança real de Columba foi bem recebida pelo rei Bruide dos pictos e ele se destacou como estadista político na corte druida. Com uma frota de navios à sua disposição, Columba visitou a ilha de Man e a Islândia, montando escolas e igrejas em todo lugar por onde passava - não só na Caledônia e nas ilhas, mas também na Northumbria inglesa (Saxônia).

Na época, as terras baixas escocesas (abaixo do Forth) consistiam em 13 reinos separados. Faziam fronteira com o reino de Northumbria ao sul e com o domínio dos pictos ao norte. Embora estivessem geograficamente fora do País de Gales, as regiões de Galloway, Lothian, Tweeddale e Ayrshire eram governadas por príncipes galeses. Uma dessas regiões dinásticas acima da muralha de Adriano era a de Gwyr-y-Gogledd (Homens do norte), cujo chefe era o rei Gwenddolau.

Pouco antes da ordenação real de Aedàn por Columba, o rei Rhydderch de Strathc1yde tinha matado o rei Gwenddolau numa batalha perto de Carlisle. O campo de batalha ficava entre o rio Esk e Liddel Water, acima da muralha de Adriano (aí, no Fosso de Liddel, foi baseado o conto arturiano de Fergus and the Black Knight, ou Fergus e o Cavaleiro Negro). O conselheiro chefe de Gwenddolau (o Merlin da Grã-Bretanha) era Emrys de Powys, filho de Aurélio. Após a morte de Gwenddolau, porém, o Merlin fugiu para Hart Fell Spa, na floresta caledônia, para buscar em seguida refúgio na corte do rei Aedàn, em Dunadd.

O título de Merlin (aplicado ao vidente do rei) já era muito usado na tradição druida. Antes de Emrys, o Merlim nomeado era Taliesin, o Bardo, marido de Viviane I del Acqs. Quando ele morreu, em 540, o título passou para Emrys de Powys, o famoso Merlin da tradição arturiana. Merlin Emrys era um primo mais velho do rei Aedàn, o que lhe dava o direito de requisitar que o novo rei partisse para a ação contra o matador de Gwenddolau. Aedàn, portanto, aqui~sêeu e demoliu a corte de Aleut, de Rhydderch, em Dumbarton.

Naqueles dias, o centro urbano mais importante no norte da Grã-Bretanha era Carlisle. Tinha sido uma proeminente cidade-guarnição romana e, em 369 d.C., era uma das cinco capitais provinciais. Em Life of St. Cuthbert, Bede se refere a uma comunidade cristã em Carlisle, muito anterior à penetração anglo-saxônica da área. Um pouco ao sul de Carlisle, perto de Kirkby Stephen, em Cumbria, encontra-se a ruína do Castelo Pendragon. Carlisle também era chamada de Cardeol ou Caruele nos tempos arturianos, e foi aí que alguns escritores do Graal, como Chrétien de Troyes, identificavam a segunda corte real do rei Artur. A obra The High History 01 the Holy Grail se refere especificamente à corte de Artur em Carlisle, que também apatece na obra francesa Suit de Merlin e nos contos britânicos Sir Gawain and the Carl of Carlisle e The Avowing of King Arthur.

O supremo posto de Pendragon durou 650 anos, mas em todo esse tempo o único Pendragon que nunca existiu foi Uther Pendragon, o lendário pai do rei Artur. Pelo menos, não existiu com esse nome, embora o pai de Artur fosse realmente um renomado Pendragon, como veremos.

A primeira referência feita a Artur vem de um monge galês do século IX, Nênio, cuja Historia Brittonum cita Artur em numerosas batalhas identificáveis. Mas Artur já era registrado muito antes de Nênio, na obra Life of St. Columba, do século VII. Ele também é mencionado no poema celta Gododdin, escrito por volta de 600.

Quando o rei Aedàn de Dalriada foi ordenado por São Columba, em 574, seu filho mais velho e herdeiro (nascido em 559) era Artur.

 
Em Life of St. Columba, o abade Adamnan de lona (627-704) contava como o santo tinha profetizado que Artur morreria antes de suceder a seu pai. Adamnan confinnou que a profecia estava correta, pois Artur foi morto em batalha alguns anos depois da morte do próprio Columba, em 597.

Acredita-se, de um modo geral, que o nome Artur (ou, em inglês, Arthur) derive do latim Artorius, mas isso é um erro. O nome arturiano era puramente celta, emergindo do irlandês, também originalmente Artur. No século m, os filhos do rei Art eram Connac e Artur. Os nomes irlandeses não eram influenciados pelos romanos e a raiz do nome inglês Arthur pode ser encontrada no século V a.C., quando Artur mes Delmann era rei dos Lagain.

Em 858, Nênio fez uma lista das batalhas nas quais Artur foi vitorioso. Os locais incluem a Floresta da Caledônia, ao norte de Carlisle (Cat Coit Celidon), e o monte Agned - o forte de Bremênio nos Cheviots, de onde os anglo-saxões foram expulsos. Também é mencionada a batalha de Artur às margens do rio Glein (Glen) em Northumbria, onde a clausura fortificada era o centro de operações desde meados do século VI. Outros campos de batalha arturianos são a Cidade da Legião (Carlisle) e o distrito de Linnuis - a velha região da tribo Novantae, ao norte de Dumbarton, onde Ben Arthur se projeta acima de Arrochar, às margens de Loch Long.

Para colocannos Artur em seu contexto correto, temos de compreender que os aparentes nomes de Pendragon e Merlin eram, na verdade, títulos.

Aplicavam-se a mais de um indivíduo com o passar dos anos. O pai de Artur, rei Aedàn mac Gabràn dos escoceses, tornou-se o Pendragon porque era neto do príncipe Brychan. Nessa linhagem, a mãe de Aedàn, Lluan de Brecknock, descendia de José de Arimatéia. Nunca existiu um Uther Pendragon, embora apareça nas árvores genealógicas da era Tudor, século XVI. O nome Uther Pendragon foi inventado no século XII pelo romancista Geoffiey de Monrnouth (futuro bispo de St. Asaph) e a palavra gaélica uther (ou uthir) era simplesmente um adjetivo que significava "terrível". Historicamente, só houve um Artur filho de um Pendragon: Artur mac Aedàn de Dalriada.

No seu 16o. aniversário, em 575, Artur se tornou o Guletic (comandante) soberano das forças britânicas e a Igreja Celta aceitou sua mãe, Ygema del Acqs, como Grande Rainha dos reinos celtas. A mãe dela (na linhagem hereditária de Jesus e Maria Madalena) era Viviane I, rainha dinástica de Avalon de Borgonha.

Os sacerdotes ungiram Artur como Grande Rei dos bretões, seguindo a ordenação de seu pai como rei dos escoceses. Entretanto, na época em que concebia Artur por Aedàn, Y gema (Igraine) estava casada com Gwyr-Llew, Dux de Carlisle. A Scots Chronicle, crônica dos escoceses, registra o evento nos seguintes termos:


"Becaus at ye heire of Brytan was maryit wy tane Scottis man quen ye Kinrik wakit, and Arthure was XV yere ald, ye Brytannis maid him king be ye devilrie of Merlynge, and yis Arthure was gottyn onn ane oyir mannis wiffe, ye Dux of Caruele".

Na Historia Regum Britanniae (História dos Reis da Grã-Bretanha), de Geoffiey de Monmouth (c.1147), Gwyr-Llew, o Dux de Caruele (Senhor da guerra de Carlisle), foi literalmente impelido para a porção mais ao sul do oeste do país e se tornou Gorlois, duque da Cornuália. Esse ajuste de nomes foi considerado necessário porque o padroeiro nonnando de Geoffrey era Robert, conde de Gloucester. A Historia foi financiada por dinheiro normando, sob a exigência expressa de incutir o rei Artur na tradição inglesa, embora ele não aparecesse na Anglo-Saxon Chronicle.

Embora fosse apresentada como um relato factual, a obra de Geoffrey é reconhecidamente incorreta em muitos aspectos. O historiador William de Malmesbury a chamava de "material duvidoso" e William de Newburgh foi mais longe ainda, dizendo: "Tudo o que o homem se deu ao trabalho de escrever acerca de Artur e seus predecessores é inventado".

Muitos foram os que se surpreenderam com o duque Gorlois da Comuália, de Geoffrey, porque não havia duques na Inglaterra no século VI. O antigo título de Dux era muito diferente da posterior nobreza ducal; era uma distinção estritamente militar, não implicando nenhum direito de posse feudal. Outra anomalia era a afirmação de Geoffrey de que o Artur do século VI nascera no castelo de Tintagel; pois não existia nenhum castelo em Tintagel até o primeiro conde da Cornuália construir um no início do século XII. Antes, havia somente um mosteiro celta em ruínas no local.

Outra confusão quanto ao filho do Pendragon se manifestou no País de Gales, e a tradição persiste ainda hoje. Havia de fato um Artur em Gales no século VI; ele foi o único outro Artur da realeza da época, mas não era filho de um Pendragon nem o Artur das histórias do Graal. Esse outro Artur foi ordenado príncipe de Dyfed por São Dubrício em 506, embora ele e seus antepassados fossem inimigos dos galeses nativos. Ele era descendente da deserdada realeza Déisi, expulso da Irlanda no fim do século IV. Quando as tropas romanas deixaram o sul de Gales em 383 d.C., os líderes Déisi partiram de Leinster para se assentar em Dyfed (Demetia). Artur, príncipe de Dyfed, aparece como um notório tirano em The Lives of the Saints (nos contos de Carannog e outros), e costuma ser retratado como um intruso regional encrenqueiro.

No romance arturiano, a confusão entre o Artur escocês e o galês surgiu principalmente por causa da ligação com Merlin. Como já vimos, Merlin Emrys era filho de Aurélio. Mas a esposa de Aurélio era irmã de Artur de Dyfed, Niniane. Aurélio a desposara num esforço para reprimir as invasões dos Déisis em Powys, mas sua estratégia não durou muito. Isso significava, claro, que Merlin Emrys era sobrinho de Artur de Dyfed e, ao mesmo tempo, primo do Pendragon Aedàn mac Gabràn, além de ser o guardião escolhido do filho Aedàn, Artur de Dalriada.

De acordo com os Annales Cambriae (Anais de Gales) do século X, Artur pereceu na batalha de Camlann - mas a qual Artur os anais se referem? certamente não ao Artur de Dalriada, pois há registro dele na Escócia depois desse evento. O Red Book of Hergest (uma coletânea de contos populares galeses), do século XV, diz que a batalha de Camlann foi travada em 537, e o provável local era Maes Camlan, ao sul de Dinas Mawddwy. Nesse caso, é perfeitamente possível que Artur de Dyfed tenha lutado lá. Ele era conhecido por liderar incursões tanto em Gwynedd como em Powys. Definitivo, porém, é que Artur de Dalriada participou de uma batalha posterior em Camelon, a oeste de Falkrik. As crônicas dos pictos e dos escoceses (Chronicles of the Picts and Scots) se referem a esse conflito no norte como a Batalha de Camelyn. Ele também lutou posterionnente em Camlana (ou Camboglanna), próximo à Muralha de Adrianoa batalha que trouxe sua destruição.

Geoffrey de Monmouth resolveu ignorar todos os locais geográficos, situando sua batalha fantasiosa às margens do rio Camel, na Cornuália. Geoffrey também associou a batalha irlandesa de Badon Hill (Dun Baedàn) com a batalha em Bath, porque esse segundo lugar fora conhecido como Badanceaster.

Em Life of Saint Columba, o abade Adamnan diz que, no fim do século VI, o rei Aedàn dos escoceses tinha consultado São Columba a respeito de seu sucessor por direito em Dalriada, perguntando: "Qual dos [meus] três filhos deverá reinar: Artur, Eochaid Find ou Domingart?" Ao que Columba respondeu:

"Nenhum dos três será governante, pois morrerão todos em batalha, destruídos pelos inimigos; mas se tu tens outros filhos mais novos, faze-os vir a mim."

Um quarto filho, Eochaid Buide, foi chamado e o santo o abençoou, dizendo a Aedàn: "Este é teu sucessor". O relato de Adamnan continua:

"E foi assim que, tempos mais tarde, na época devida, tudo se realizou confonne previsto; pois Artur e Eochaid Find foram mortos após um intervalo de tempo não muito grande na batalha de Miathi. Domingart foi morto na Saxônia e Eochaid Buide sucedeu ao pai no trono."

Os Miathi (confonne menciona Adarnnan) eram uma tribo de bretões que se dividiram em dois grupos e se estabeleceram ao norte das muralhas de Antonino e Adriano, respectivamente. A Muralha de Antonino se estendia entre o Estuário de Forth e o de Clyde. A Muralha de Adriano cortava a região mais baixa entre o Estuário Solway e Tynemoth. Em 559, os anglos tinham ocupado Deira (Yorkshire), expulsando os Miathi para o norte. Até 574, os anglos também tinham se espalhado até Bernícia, Northumbria. Alguns dos Miathi resolveram ficar próximos da muralha mais baixa e viver lá da melhor maneira possível, enquanto outros migraram para o norte mais distante, assentando-se além da muralha mais alta.

O principal posto dos Miathi do norte ficava em Dunmyat, na fronteira da moderna Clackmannanshire, no distrito de Manau, região do Forth. Lá, eles tiravam a sorte com os colonizadores irlandeses, o que os tomou muito impopulares com os escoceses e galeses. Apesar da derrota do rei Cairill em 516, em Badon Hill, Antrim, os irlandeses continuavam problematicamente obstrutivos em Manau. Conseqüentemente, as forças do Guletic fIzeram nova incursão em Ulster, em 575.

O segundo ataque em Dun Baedàn é mencionado por Nênio, que descreveu corretamente a presença de Artur, enquanto o relato de Gildas se refere à batalha anterior de 516, citando também corretamente Ambrósio Aurélio como comandante. Nênio, porém, dá mais crédito a Artur do que este merecia, pois, nessa segunda ocasião, os escoceses foram derrotados e o pai de Artur, o rei Aedàn, foi obrigado a se submeter ao príncipe Baedàn mac Cairill, em Ros-na-Rig, Belfast.

Após a morte do rei Baedàn mac Cairill, em 581, Aedàn dos escoceses finalmente conseguiu expulsar os irlandeses de Manau e do Forth. Mais tarde, em 596, a cavalaria de Artur expulsou os irlandeses de Brecknock, dos escoceses. O rei Aedàn esteve presente às batalhas, mas os irmãos mais novos de Artur, Brân e Domingart, foram mortos em Brechin, na planície de Circinn.

No confronto com os irlandeses em Manau, as tropas do Guletic também tinham de lidar com os bretões Miathi. Conseguiram explusar muitos, forçando-os a voltar ao seu território no sul; mas os que ficaram após a partida das tropas enfrentaram os pictos, que invadiam seu domínio. No fim daquele século, os pictos e os Miathi se uniram contra os escoceses, enfrentando-os na batalha de Camelyn, ao norte da muralha de Antonino. Mais uma vez os escoceses foram vitoriosos e os pictos expulsos para o norte. Posteriormente, uma fundição de ferro das proximidades foi chamada de Furnus Arthuri (fogo de Artur) para celebrar o evento. Ela foi uma atração que durou muito, sendo somente demolida no século XVIII, com o advento da Revolução Industrial.

Três anos depois de Camelyn, os escoceses enfrentaram os Miathi do sul e os anglos de Northumbria. Esse confronto foi um evento prolongado, ocupando dois campos de batalha - sendo o segundo conflito o resultado de uma retirada escocesa do primeiro. Inicialmente, as forças se encontraram em Camlanna, um velho forte romano nas montanhas, próximo à Muralha de Adriano. Diferentemente do primeiro confronto, porém, a batalha de Camlanna foi um completo fiasco para os escoceses. Aceitando uma tática divisionária dos Miathi, eles permitiram que os anglos os atacassem por trás, numa investi da em direção a Galloway e Strathclyde. A infeliz definição de Cath Cam/anna passou a ser aplicada a muitas batalhas perdidas a partir daí.

Meses antes, o rei anglo, Aethelfrith de Bemícia, tinha derrotado o rei Rhydderch em Carlisle, adquirindo assim novo território ao longo do Solway. As forças de Dalriada, sob o comando de Aedàn e Artur, sofreram certa pressão para interceptar e deter o avanço dos anglos para o norte. Aparentemente, eles teriam formado forças imensas, oriundas dos escalões dos príncipes galeses, e obtiveram o apoio de Maeluma mac Baedàn de Antrim, o filho de seu antigo inimigo. Naquela época, os irlandeses viviam ameaçados pela possibilidade de uma invasão anglo-saxônica.

É importante observarmos que o rei Aedàn era um cristão da igreja celta da Sagrada Família de São Columba. De fato, os escoceses de Dalriada costumavam ser associados com a Sagrada Família, que era baseada na tradição nazarena, mas incorporava alguns costumeiros rituais druidas e pagãos.

Artur, porém, tornara-se obcecado pelo Cristianismo romano, a ponto de começar a ignorar sua cavalaria de Guletic como exército sagrado. Essa disposição gerou um considerável distúrbio dentro da Igreja Celta, pois, afinal de contas, Artur estava destinado a ser o próximo rei dos escoceses. Os anciãos estavam particularmente preocupados, temendo que ele tentasse implementar um reino romanizado em Dalriada, e foi por isso que Artur se tornou um inimigo de seu próprio filho, Modred, arcebispo da Sagrada Família. Modred tinha ligações com o rei saxão Cerdic de Elmet (a parte oeste de Yorkshire), e Cerdic era aliado de Aethelfrith, de Bernícia. Não foi dificil, portanto, persuadir Modred a se voltar contra seu pai no campo de batalha e aliar-se aos anglos em sua tarefa de impedir que o reino escocês perdesse sua antiga herança druida.

E foi assim que, quando os escoceses enfrentaram os anglos e Miathi em Camlana, em 603, Aedàn e Artur se viram não só contra o rei Aethelfrith, mas também contra seu próprio príncipe Modred. O confronto inicial em Camlanna foi curto e as tropas celtas se viram obrigadas a correr atrás dos anglos, que já tinham passado por elas. Eles se encontraram novamente em Dawston-on-Solway (na época chamada Degsastan, em Liddesdale) e as crônicas de Holyrood e de Melrose (Chronicles of Holyrood e Chronicles of Melrose) se referem ao local da batalha como Dexa Stone. A chegada do arcebispo Modred com os invasores desencorajou seriamente o espírito celta, e foi aí que Artur (com 44 anos) caiu junto a Maeluma mac Baedàn.

A batalha, que começou em Camlanna e terminou em Dawston, foi uma das mais violentas na história dos celtas. Os anais de Tigernach (Tigernach Annals) a chamam de "o dia em que metade dos homens da Escócia caiu". Embora Aethelfrith fosse vitorioso, sofreu perdas pesadas. Seus irmãos Teobaldo e Eanfrith foram mortos, junto a todos os seus homens, e o rei Aedàn abandonou o campo após perder dois filhos, Artur e Eochaid Find, e seu neto, o arcebispo Modred.

Aethelfrith nunca chegou a Strathclyde, mas seu sucesso em Dawston permitu que o território de Norhumbria se estendesse para o norte, até o Estuário de Forth, incorporando Lothian. Dez anos depois, em 613, Aethelfrith sitiou Chester e colocou Cumbria inteiramente sob controle anglo. Isso criou um abismo geográfico permanente entre os bretões galeses e os de Strathc1yde. Os anglos mércios se espalharam para o oeste, empurrando os galeses para trás do que se tornou a linha demarcatória do dique de Offa, enquanto os saxões de Wessex invadiram a região além de Exeter, anexando a península sudoeste.

Com o passar do tempo, as regiões celtas antes conjuntas de Gales, Strathc1yde e Dumnonia (Devon e Cornuália), ficaram totalmente isoladas uma das outras, e a Família de São Columba atribuiu a culpa a Artur. Ele tinha falhado em seu dever como Guletic e Grande Rei. Seu pai, o rei Aedàn de Dalriada, morreu cinco anos após a tragédia de Camlanna, o que, segundo dizem, abriu a porta para a conquista final da Grã-Bretanha pelos anglo-saxões. Os dias do domínio celta tinham acabado e, depois de mais de seis séculos de tradição, Cadwaladr de Gales (vigésimo sexto na linhagem de José de Arimatéia) foi o último Pendragon.

Na onda das derrotas de Artur em Camlanna e Dawston Guntas chamadas de di Bellum Miathorum: a batalha dos Miathi), os velhos reinos do Norte não mais existiam. Os escoceses, fisicamente separados de seus antigos aliados em Gales, percebemm que seu único meio de salvar a terra de Alba (Escócia) em uma aliança com os pictos da Caledônia. Isso foi feito em 844, quando o afamado descendente de Aedàn, o rei Kenneth MacAlpin, uniu os pictos e escoceses como uma nação. Os registros da ordenação de Kenneth sustentam sua posição verdadeimmente importante na linhagem familiar, referindo-se a ele como descendente das minhas de Avalon.

Se Modred tivesse sobrevivido, ele certamente teria se tomado Pendmgon, pois em um grande favorito dos druidas e da Igreja Celta. A mãe de Artur, Ygema, em a irmã mais velha de Morgause, que se casou com Lot de Lothian, o governador de Orkney. Lot e Morgause eram os pais dos irmãos Gawain, Gaheries e Gareth, de Orkney. Morgause também era (assim como Ygerna) irmã mais nova de Viviane II, a consorte do rei Ban le Benoic, um descendente desposyni de Faramund e dos Reis Pescadores. Viviane e Ban eram os pais de Lancelot del Acqs.

Após a morte de seu primeiro marido, o Dux de Carlisle, Ygema se casou com Aedàn de Dalriada, legitimando Artur antes que a este fossem conferidos seus títulos. Por meio dessa união, as linhagens de Jesus e Tiago/José de Arimatéia se combinaram em Artur pela primeira vez em quase 350 anos. Apesar de suas falhas, foi por isso que Artur se tomou tão importante para a tradição do Gmal.

A avó materna de Artur, Viviane I, foi a minha dinástica de Avalon, uma parenta dos reis merovíngios. Sua tia, Viviane II, em a Mantenedora oficial do Misticismo Celta e essa herança passou, no momento certo, para a filha de Ygema, Morgana. Artur em casado com Guinevere, da Bretanha, mas ela não pôde ter filhos. Por outro lado, gerou Modred, com Morgana. Registros antigos, como o Promptuary of Cromarty, sugerem que Artur também teve uma filha chamada Tortolina, mas na verdade ela em sua neta (filha de Modred). A meia-irmã de Artur, Morgana (também conhecida como Morgaine ou Morgan le Faye), em casada com o rei Urien de Rheged e Gowrie (Goure), que nos romances arturianos é chamado de Urien de Gore. O filho deles era Ywain, fundador da Casa Bretã de Léon d' Acqs, que tinha o título de Comte (conde). Por direito, Morgana era uma Sagrada Irmã de Avalon e alta sacerdotisa celta. Os textos da Real Academia Irlandesa se referem a ela como "Muirgein, filha de Aedàn em Belach Gabráin".

Alguns autores consideram a relação sexual de Artur com sua meia-irmã, Morgana, incestuosa, mas a Grã-Bretanha celta não considerava a situação por esse ângulo. Naquela época, prevalecia o conceito da natureza dual de Deus, bem como o antigo conceito da sagrada irmã-noiva. Nesse sentido, a oração dos celtas começava: "Nosso Pai-Mãe nos céus" e, acompanhando-a, havia ritos especificamente definidos que denotavam a encarnação mortal da entidade dupla "macho/fêmea". Com a manifestação terrestre da deusa Ceridwin, Morgana representava o aspecto feminino, enquanto Artur, como seu meio-irmão por parte de mãe, era seu verdadeiro parceiro na tradição estabelecida desde os tempos dos faraós.

No festival de Beltane, em maio, Artur foi pego como um deus em forma humana e obrigado a participar de um ritual de relação sagrada entre os aspectos gêmeos do Pai-Mãe encarnado. Considerando-se a presumida divindade de Artur e Morgana durante esse rito, qualquer criança do sexo masculino que nascesse dessa união seria considerada o Cristo celta, e ungido como tal. Por isso, embora Artur estivesse destinado a se tornar o tema proeminente da história romântica, seu filho Modred era quem teria a mais alta posição espiritual; ele era o designado Cristo da Grã-Bretanha, o arcebispo ordenado da Sagrada Família e um rei pescador ungido.

Em sua maturidade, Artur manteve a tradição romana, mas foi o arcebispo Modred quem se esforçou para amalgamar os velhos ensinamentos celtas com os da Igreja Cristã, tratando os sacerdotes druidas e cristãos com igualdade. Foi essa diferença essencial entre pai e filho que os dispôs um contra o outro. Artur se tornara essencialmente romanizado, enquanto Modred mantinha a tolerância religiosa na verdadeira natureza da tradição do Graal. Apesar do extraordinário sucesso da carreira inicial de Artur, sua eventual tendência católica o fez trair seu juramento celta de aliança. Como Grande Rei dos bretões, ele deveria ser o defensor da Fé, mas em vez disso impunha ao povo rituais específicos. Quando ele e Modred pereceram em 603, a morte de Artur não foi lamentada pela Igreja Celta, mas ele nunca será esquecido. Seu reino caiu porque ele ignornou os códigos de lealdade e serviço. Sua extrema negligência facilitou a conclusão da conquista saxônica, e seus cavaleiros vagarão pela terra devastada até que o Graal seja devolvido. Ao contrário do que se vê em todos os mitos e lendas, foi o arcebispo Modred (não Artur), prestes a morrer, quem foi tirado do campo pelas Santas Irmãs de sua mãe, Morgana.

 

Na Historia de Geoffrey de Monmouth, as nove santas irmãs de Morgan le Faye são citadas como guardiãs da ilha de Avalon. Já no primeiro século d.C., o geógrafo Pompõnio Mela escrevia acerca das nove misteriosas sacerdotisas que viviam sob voto de castidade na ilha de Sein, fora da costa da Bretanha, perto de Carnac. Mela falou a respeito dos poderes que elas tinham de curar os doentes e prever o futuro, semelhante à história de Morgana del Acqs, alta sacerdotisa celta com poderes proféticos e terapêuticos. A Igreja Romana, porém, não tolerava tais atributos em uma mulher e, por isso mesmo, os monges cistercienses foram obrigados a transformar a imagem de Morgan le Faye na Vulgata do Ciclo Arturiano.

Os cistercienses eram precisamente identificados com os Cavaleiros Templários de Jerusalém, e a cultura do Graal nasceu diretamente do ambiente dos templários.

Os condes de Alsace, Champagne e Léon (aos quais eram associados escritores como Chrétien de Troyes) eram filiados à Ordem, mas a Igreja Católica ainda influenciava o domínio público. Conseqüentemente, as mulheres não tinham direito algum de exercer funções eclesiásticas ou sagradas e, para reforçar isso, desde meados do século XIII, Morgana (herdeira dinástica e santa irmã celta de Avalon) passou a ser retratada como malévola feiticeira. No poema inglês Gawain and the Green Knight (escrito por volta de 1380), é a ciumenta Morgana que transforma Sir Bercilak no Gigante Verde, para assustar Guinevere.


De maneira semelhante à prática matriarcal dos pictos, a dinastia de Avalon de Morgana se perpetuava na linha feminina.

A diferença era que as filhas da rainha ocupavam as posições superiores - e não os filhos; assim, a honraria era eternamente feminina, em conceito. Originando-se da mesma linhagem de Jesus, as rainhas nominais de Avalon, em Borgonha, surgiam paralelamente aos reis merovíngios, enquanto outras importantes ramificações eram as linhagens masculinas das sucessões reais de Septimania e Borgonha.

O filho de Morgana, Ywain (Eógain), fundou a nobre casa de Léon d' Acqs, na Bretanha, e posteriormente as armas de Léon portavam o Leão negro de Davi em um escudo de ouro (em termos heráldicos: "Ou, um leão à solta, sable"). A província também tinha o mesmo nome porque léon era o termo espanhol de Septimania para "leão". A grafia inglesa apareceu no século XII, como uma variante do anglo-mmcês liun. Até o século XIV, o lorde escocês Lyon, rei de Arms, ainda era chamado de Léon Héraud.

Alguns livros sugerem que o filho de Ywain, conde Withur de León d' Acqs (geralmente abreviado como d' Ak), seja o mesmo que Uther Pendragon, por causa da semelhança de seus primeiros nomes. Mas, na verdade, Withur era um nome basco, derivado do irlandês Witur, cujo equivalente na língua da Cornuália era Gwythyr. Não tinha relação com Uther que, como mencionado anterionnente, derivava de um adjetivo gaélico com o significado de "terrível"

O Comité (condado) de León foi estabelecido por volta de 530, na época do rei bretão Hoel I. Ele descendia de Arimatéia, pela linhagem galesa, e sua innã. Alienor, era a esposa de Ywain.

Naquela época, havia dois níveis de autoridade na Bretanha. No decorrer de uma imigração prolongada da Grã-Bretanha, Dumnonia fora fundada, em 520, mas ainda não era um reino. Então surgiu uma linhagem de reis como Hoel, mas não eram reis da Bretanha, e sim dos bretões imigrantes. Durante todo esse período, a região pennaneceu como província merovíngia e os reis locais eram subordinados à autoridade franca pelos condes nomeados com o título de Comites non regis. O supremo senhor franco da Bretanha (540-544) era Chonomore, um nativo do estado franco. Como autoridade merovíngia para supervisionar o desenvolvimento da Bretanha por parte dos colonizadores. Os antepassados de Chonomore eram prefeitos do palácio de Neustria, e ele era o herdeiro Comte de Pohor. Com o tempo, os descendentes da tia de Ywain, Viviane II, tomaram-se condes gerais da Bretanha.

Quando Henry VIII dissolveu os mosteiros, a abadia de Glastonbury contava com dezenas de relíquias, incluindo um fio do vestido de Maria, uma lasca da vara de Aarão e uma pedra que Jesus se recusara a transformar em pão. Com a dissolução, porém, os dias de atividade monástica da abadia cessaram e as supostas relíquias desapareceram sem traços. Desde aquela época, ninguém jamais viu os alegados ossos de Artur e Guinevere; só o que resta é um aviso indicando o local da tumba. Para muita gente, porém, Glastonbury sempre será associada a Avalon. Alguns preferem a idéia de Tintagel, de Geoffrey, enquanto outros apostam em Bardsey ou na Ilha Sagrada. Entretanto, a despeito da real Avalon em Borgonha, é óbvio que o Outro Mundo celta era um reino mítico, com uma tradição remontando a tempos imemorais.


Separada da Igreja Bizantina, a Igreja de Roma desenvolveu o tema do Credo dos Apóstolos algum tempo depois do ano 600. Foram incorporadas passagens que ainda hoje são familiares: Deus se tornou o "criador de céu e da terra" e, em uma representação que nada tem a ver com a Bíblia, Jesus (que "padeceu sob Pôncio Pilatos") "desceu à mansão dos mortos". antes de ressuscitar ao terceiro dia. O Credo, nessa época, também introduziu o conceito da Santa Igreja Católica e da Comunhão dos Santos.

Durante os séculos VI e VII, a suposta crença herética nestoriana se espalhou até a Pérsia, o Iraque e o sul da Índia - alcançando até a China, onde os missionários chegaram à corte imperial do imperador T'ang T'ai-tsung, em 635. Ele se sentiu tão inspirado pela nova doutrina que mandou traduzir o credo nestoriano para o chinês e sancionou a construção de uma igreja e um mosteiro comemorativos. Quase um século e meio mais tarde, em 781, um monumento em homenagem a Nestório foi erguido em Sian-fu.

Enquanto isso, os arianos (que também negavam a divindade de Jesus) tinham desenvolvido uma forte influência na sociedade européia. A história cristã usa o termo "bárbaro" para descrever arianos como os godos, visigodos (godos do oeste), ostrogodos (godos do leste), vândalos (Wends), lombardos e borgonheses, mas a descrição se refere a nada mais que diferenças culturais; ela não implica que esses povos fossem rufiões pagãos. A hostilidade declarada dos tais bárbaros para com Roma e Bizâncio não era mais bárbara do que o imperialismo romano selvagem, e na maior parte do tempo eles eram mais defensivos do que agressivos. Embora tivessem sido outrora totalmente pagãs (como os próprios romanos), essas tribos, na maioria, já tinham se tornado seguidoras de Ário no século IV. Da Espanha e do sul da França, através da Ucrânia, a maior parte da Europa germânica era cristã ariana no século VII.

Outra doutrina que, até certo ponto, tornara-se associada aos nestorianos e arianos era remanescente do culto de Prisciliano d' Á vila, do século IV. Seu movimento cristão alternativo tinha começado no noroeste da Espanha, fazendo significativas incursões em Aquitânia. Fundamental para a crença prisciliana - que veio do Egito, da Síria e da Mesopotâmia - era a mortalidade da Bem-Aventurada Maria, idéia contrária à sua imagem semidivina na Igreja Romana. Prisciliano fora executado em 386 d.C. em Trier (norte de Metz), e seu corpo foi transferido posteriormente para sepultamento na Espanha.

Diante dessas alternativas ao Cristianismo ortodoxo que se alastravam, a Igreja Católica ia perdendo sua proeminência no Ocidente. O Catolicismo estava cercado e infundido de várias outras formas de Fé. Entretanto, elas geralmente se baseavam em tradições judaicas, em vez do conceito paulino que fora adotado e adaptado por Roma. Com exceção de algumas facções com base espiritual dentro do movimento gnóstico, elas retinham crenças próximas à tradição dos desposyni, promovendo a doutrina nazarena da humanidade de Jesus e pregando sua mensagem, em vez de venerar sua pessoa.

Paralelamente à estrutura cerimonial da Igreja Romana, uma seita erudita evoluiu às margens do Catolicismo. Era um movimento dinástico (encabeçado por Martinho de Tours) que negava o episcopado e se baseava em antigos conceitos egípcios e orientais, de um modo geral. A sociedade essênia em Qumrã tinha uma existência solene e regulada – um estilo de disciplina religiosa que fora perpetuado nas regiões dos desertos. Essa mesma exclusão, essencial para a existência monástica, fosse ela aplicada a comunidades pequenas ou aos eremitas ascéticos (eremoi), era perfeitamente apropriada para uma vida de estudo e contemplação.

Provavelmente, o pioneiro monástico São Martinho (316-397 d.C.) seja mais bem lembrado por ter partido seu manto em dois, para dividi-lo com um mendigo nu. Natural de Panônia, Martinho foi um bom soldado no exército imperial antes de fixar residência em Poitiers, e estabeleceu o primeiro grande mosteiro da Gália, em Marmoutier. Por volta de 371 d.C., ele foi nomeado bispo de Tours, mas continuou sua existência monástica. Futuramente, Martinho se tornaria o santo padroeiro da França.

Um dos primeiros missionários da Europa nas ilhas britânicas foi São Germano d' Auxerre, que visitou a Grã-Bretanha no século V, e foi o professor de S1. Patrick, da Irlanda. Filho de um diácono da igreja celta, Patrick fora capturado por piratas, quando ainda era menino. Depois de algum tempo como escravo, ele fugiu para a Gália, onde foi treinado para ser missionário, nos mosteiros de Lérins e Auxerre. Em 431 d.C., ele retomou à Grã-Bretanha, e começou sua missão em Northumbria.

Os ensinamentos de Patrick eram diferentes em muitos aspectos dos ensinamentos de Roma, e seus escritos indicam uma distinta tendência para as tradições dos arianos e nestorianos. Ele não era apreciado pela Igreja Católica, cujos governadores afirmavam categoricamente que Patrick não servia para o sacerdócio. Patrick baseava seus ensinamentos somente nas escrituras. Ele não tinha tempo para a autoridade estrita dos bispos romanos, pois se interessava muito mais pela fraternidade da Igreja Celta adversária.

Uma das figuras de maior destaque no estabelecimento de mosteiros europeus foi São Benedito (c.480-544 d.C.). Natural de Spoleto, Itália, Benedito fixou residência numa remota caverna nas florestas, perto de Roma. Mais tarde, ele encontrou um retiro mais agradável no belo monte Cassino (uma colina proeminente entre Roma e Nápoles), que era, na verdade, o local de um velho templo de Apolo. O lugar pagão não agradava aos bispos católicos, mas a Benedito logo se juntou um grande grupo de discípulos, dentre os quais Gregório, o Grande, bispo de Roma entre 590-604. Em relativamente pouco tempo, o grupo beneditino ganhou considerável influência nas questões políticas - especialmente em seus esforços para conciliar os godos com os belicosos lombardos da Itália.

A Ordem de São Benedito promovia a devota reverência, a observância estrita das horas de oração e a prática das posses comuns no ambiente monástico de aprendizado, sob a supervisão de um abade residente. Com o tempo, Benedito fundou 12 mosteiros, cada um com 12 monges, e ele geralmente é considerado o Pai das ordens monásticas no Cristianismo ocidental. Desde aqueles tempos remotos, os beneditinos eram grandemente responsáveis por manter altos padrões de educação, arte sacra e música na Europa. Essa era da evolução da Ordem Beneditina assinala o começo do que às vezes se chama de Era dos Santos - um período que, na tradição romana católica, podemos dizer que ainda se estende até hoje.

Enquanto a Igreja Romana se ocupava obsessivamente com dogmas e estrutura eclesiástica, a Igreja Celta mostrava um interesse pelos corações e mentes das pessoas. Em 597, o Cristianismo celtajá estava tão difundido que o bispo Gregório de Roma enviou o monge beneditino, Agostinho, * à Inglaterra, especificamente para estabelecer a Igreja Romana mais firmemente no país. Sua chegada foi deliberadamente marcada para logo depois da morte do proeminente Pai da Sagrada Família, o gentil São Columba. Agostinho começou seu trabalho no sudeste da Inglaterra (mais precisamente em Kent), onde a esposa do rei local, Aethelbert, já era católica convicta. Em 601, Agostinho foi proclamado o primeiro arcebispo de Canterbury e, dois anos depois, ele tentou se tomar Primado da Igreja Celta também. Entretanto, tal investida só poderia dar errado, num sistema que permanecia mais nazareno do que romano. Na verdade, o plano de Agostinho não era a unificação das igrejas, e sim a subjugação estratégica de uma igreja tradicional que Roma tinha declarado mais ou menos herege.

Somente em 664, no Sínodo de Whitby, em North Yorkshire, Roma conseguiu a primeira vitória doutrinal sobre a Igreja Celta. O principal debate era acerca da data da Páscoa, pois o sumo pontífice tinha resolvido que a Páscoa cristã não devia mais ser formalmente associada à Passagem, ou à Páscoa dos judeus. Contra todos os costumes prevalecentes e contra toda a tradição celta, os bispos católicos conseguiram o que queriam - eliminando para sempre os históricos vínculos judaicos e celtas. Tradicionalmente, porém, o festival da Páscoa na Grã-Bretanha não era uma celebração de Passagem no estilo judaico, nem coisa alguma ligada a Jesus. A Páscoa, ou, em inglês, Easter, representava tanto em nome como em época, Eostre, a deusa da primavera, cujo feriado era observado muito antes de qualquer associação com o Cristianismo.

Depois do Sinodo, a Igreja Católica aumentou sua força na Grã-Bretanha, mas a Igreja Celta não podia ser suprimida sem uma declaração expressa de guerra contra a Irlanda. No entanto, os dias do imperialismo romano estavam contados e nenhum exército que a Igreja Romana pudesse montar derrotaria as ferozes tropas dos reis irlandeses. A Igreja Celta, conseqüentemente, permaneceu muito ativa na Grã-Bretanha e a Sagrada Família de São Columba acabou se tomando a sede eclesiástica dos reis dos escoceses.

Em meio a tudo isso, o maior problema do bispo de Roma era sua incapacidade de ganhar supremacia sobre as casas reais da Grã-Bretanha celta. Roma tinha experimentado uma dose de sucesso potencial com a conversão do rei Artur, mas Artur morrera e a herança nazarena do título druida permanecia firme por causa dos sucessores de seu meio-irmão Eochaid Buide. Pouco depois da ascensão de Eochaid, em 610, o bispo Bonifácio IV adotou o novo título romano de Papa, uma alternativa a ser chamado de "construtor de pontes" (pontífice). Foi uma tentativa clara e positiva de competir com a antiga distinção celta de Pai, herdada da tradição essênia. Mas quando a nova supremacia papal foi testada em Dianoto, abade de Bangor, ele respondeu que nem ele nem seus colegas reconheciam tal autoridade. Eles estavam preparados, disse, para reconhecer a Igreja da Deus, "mas quanto à obediência, nós sabemos que nenhum dos quais vocês chamam de Papa (ou Bispo dos bispos) pode exigir". Uma carta local escrita ao abade de lona, em 634, referia-se inegavelmente a St. Patrick (o Pai prevalecente) como "Nosso Papa".

No decorrer dos séculos, várias tentativas foram feitas para negar a herança sacerdotal e patriarcal da Igreja Celta (que era suficientemente autoritária para causar preocupação no Vaticano). As ordens sagradas católicas romanas deveriam depender da Sucessão Apostólica, mas nenhuma sucessão dessa espécie podia ser comprovada, pois o apóstolo Pedro (em que a sucessão supostamente se apoiava) nunca tivera um cargo formal. O primeiro bispo nomeado de Roma foi o príncipe Lino, da Grã-Bretanha, filho de Caractaco, o Pendragon, e, conforme registrado nas Constituições Apostólicas da Igreja, Lino iniciou a verdadeira sucessão, tendo sido ordenado por São Paulo enquanto Pedro ainda vivia, no ano 58 d.C.

Posteriormente, em 180 d.C., Irineu, bispo de Lyon, escreveu: "Após fundar e construir a Igreja de Roma, os Apóstolos deixaram seu ministério sob a supervisão de Lino". Em tentativas de velar a herança real de Lino, costumava-se descrevê-Io como um escravo inferior, mas isso não tirou o espinho do flanco da Igreja e, por causa disso, a doutrina papal tem de ser considerada "infalível" quando emana do trono. Sem essa doutrina, todo o conceito de uma progressão estruturada de bispos superiores na sucessão apostólica, desde Pedro, cairia por terra, pois Pedro nunca foi bispo de Roma ou de qualquer outro lugar.

O bispo Teodósio tentou forjar um vínculo apostólico em 820, ao anunciar que os restos mortais de Tiago Boanerges (São Tiago, o maior) tinham sido desenterrados em Compostela, na Espanha. Em 899, o resultante santuário em Santiago (São Tiago) se tomou uma grande catedral, destruída pelos mouros em 997, e reconstruída em 1078. Mas era conhecimento comum do Novo Testamento que Tiago Boanerges (irmão de João) fora executado em Jerusalém por Herodes de Cálcis, em 44 d.C. (Atos 12:2). Portanto, era mais provável que os ossos descobertos (se é que pertenciam a alguém chamado Tiago) fossem do discípulo Tiago Cleofas, que veio para o Ocidente com sua esposa Maria Jacó, na jornada de Madalena. Mesmo essa é uma possibilidade remota, porém, e já foi sugerido - de modo nada convincente - que as relíquias e a posterior herança de Santiago de Compostela pertencessem a Prisciliano d' Ávila.

A cisão final de Roma com a Igreja Oriental ocorreu em 867, quando a segunda anunciou que mantinha a verdadeira Sucessão Apostólica. O primeiro Concílio do Vaticano discordou, e então Fótio, o patriarca de Constantinopla, excomungou o papa Nicolas I de Roma!

Isso provocou novas brigas quanto à definição da Trindade. Os católicos da cristandade ocidental decidiram ratificar o que era chamado de Artigo Filioque, introduzido no Concílio de Toledo em 598. Ele declarava que o Espírito Santo procedia "do Pai e do Filho" (latim: filioque). A Igreja Oriental afirmava o contrário, dizendo que o Espírito procedia "do Pai pelo Filho" (grego: dia tou huiou). Era um ponto de discussão teológica intangível e até extraordinário, mas aparentemente bom a ponto de dividir no meio o Cristianismo formal. Na realidade, claro, tratava-se apenas de uma desculpa trivial para perpetuar o debate acerca de quem deveria controlar politicamente a Igreja, Roma ou Constantinopla. O resultado final foi à formação de duas igrejas distintas a partir da original.

Com o passar do tempo, a Igreja Oriental mudou relativamente pouco. De sua primazia em Constantinopla, ela continuou seguindo rigidamente os ensinamentos das escrituras e seu foco de culto se tornou o ritual da Eucaristia (dar graças) com pão e vinho.

O Catolicismo, por outro lado, passou por numerosas mudanças: novas doutrinas foram acrescentadas e velhos conceitos adaptados ou mais bem substanciados. A partir do século XII, sete sacramentos passaram a ser considerados capazes de personificar a graça de Deus na vida física de uma pessoa (embora nem todos fossem necessários para a salvação individual). Eram classificados como: batismo, primeira comunhão, crisma, confíssão e penitência, ordenação em ordens sagradas, a solenização do matrimônio e a unção dos enfermos e dos moribundos (a extremaunção ou os ritos finais). Foi declarado também que o pão e o vinho da Comunhão eram realmente transformados, na consagração, no corpo físico e no sangue de Jesus (a doutrina da Transubstanciação).

Assim como a Igreja Romana de Constantino começara como um híbrido, também a sua estrutura permaneceria composta. Novos métodos e ideologias foram introduzidos para manter um eficiente controle das congregações a distância, numa sociedade católica que se expandia. Dessa forma, o Catolicismo romano evoluiu de maneira estritamente regulada, e algumas doutrinas que hoje parecem ser tradicionais são, na verdade, implementos recentes. Foi só na era vitoriana que certos aspectos do credo católico (até então apenas implícitos) foram determinados como itens explícitos de fé. A doutrina da Imaculada Conceição, por exemplo, só foi expressada formalmente em 1854, quando o papa Pio IX decretou que Maria, a mãe de Jesus, também fora concebida livre do pecado original. A Assunção de Maria ao Céu só foi definida na década de 1950 pelo papa Pio XII, enquanto o papa Paulo VI proclamou Maria como Mãe da Igreja em 1964.

Tais decretos foram possíveis graças à afirmação de autoridade da "infalibilidade do papa". O dogma referente a isso foi proclamado no primeiro Concílio do Vaticano em 1870, quando se afirmou, sem tolerância a contestações, que "o papa é incapaz de errar ao definir questões pertinentes ao ensinamento da Igreja e à moralidade!"

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