“Durante
os tempos de Maria Madalena, Magdala já era um povoado próspero na indústria
pesqueira”, afirma Ristine, diretora do Instituto Madalena, numa entrevista por
e-mail. As primeiras escavações foram feitas nos anos setenta. Mas foi em 2009
que os Legionários de Cristo compraram um terreno na região e “descobriram a
parte norte do povoado de Magdala”. “Encontraram uma sinagoga do século I, uma
representação do templo de Jerusalém em pedra [a pedra de Magdala], banhos de
purificação ritual, residências e um porto”, explica Ristine.
Mas
era ou não uma prostituta? Ristine considera que houve “muitas más
interpretações sobre a vida de Maria Madalena”. Os achados arqueológicos da
cidade bíblica de Magdala, hoje um sítio arqueológico com mais de 2.000 anos de
antiguidade, sugerem que se tratava de um enclave rico. E, ao integrar neste
contexto as referências bíblicas, pode-se deduzir que Maria Madalena era “uma
mulher rica, de um povoado economicamente bem posicionado”, e não
necessariamente uma prostituta, acrescenta a autora. Essa ideia se reafirma,
por exemplo, nos versículos de Lucas 8:1-3: “Depois disso, Jesus andava pelas
cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus. Os Doze estavam com
ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos
malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham
saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e
muitas outras, que o assistiram com as suas posses”.
A
Igreja Católica canonizou Madalena, que é santa desde 2016 (com festa litúrgica
em 22 de julho), quando o papa Francisco a nomeou apostola apostolurum, “a
apóstolo dos apóstolos” – não por acaso, segundo a Bíblia, foi a primeira a ver
Jesus ressuscitado. E, entretanto, foi o papa Gregório Magno, no ano 591, um
dos introdutores do qualificativo de “prostituta” quando em sua homilia 33
afirmou: “Aquela a quem o evangelista Lucas chama de mulher pecadora é a Maria
da qual são expulsos os sete demônios, e o que significam esses sete demônios
senão todos os vícios?” Com essa afirmação, o sumo pontífice fez uma fusão de
três marias: Maria, a pecadora, “que unge os pés do Senhor”; Maria, a de
Magdala, liberada por Jesus de sete demônios, e entre as mulheres que o
assistem; e Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. “A Igreja do Oriente
acredita que são três mulheres diferentes, enquanto a Igreja do Ocidente crê
firmemente identificá-las como a mesma mulher, Maria Madalena”, diz Jennifer
Ristine.
Mas
não foi Gregório Magno o único responsável. Segundo a pesquisadora, alguns autores
a associaram a uma mulher mencionada no século II no Talmud, chamada Miriam
Megaddlela, que significa “Maria de cabelo trançado”. “Na comunidade judaica,
esse título era adjudicado a uma mulher de má reputação, uma adúltera ou uma
prostituta”, acrescenta.
Independentemente
de ter ou não sido meretriz, um estigma do qual os movimentos feministas tentam
livrá-la, “Maria Madalena foi uma mulher influente tanto econômica como
socialmente; economicamente porque era uma mulher acomodada, e socialmente
porque, apesar de crescer e viver numa sociedade religiosa estrita, decide
romper esquemas e seguir Jesus”, considera Ristine, para quem a mulher de
Magdala é acima de tudo “um modelo de liderança para as mulheres”.
E
ainda resta muito a descobrir sobre ela. Só foram escavados 15% da antiga
Magdala, de modo que, segundo Jennifer Ristine, futuros achados arqueológicos
podem ajudar a revelar mais detalhes sobre o passado religioso da cidade natal
de Maria Madalena, esclarecendo fatos e verdades de uma das personagens mais
misteriosas dos Evangelhos.
Fonte
: El Pais
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