Jim Caviezel tem as
mesmas iniciais de seu personagem e estava com a mesma idade que ele quando
filmou A Paixão de Cristo, polêmica produção de Mel Gibson. Considerado
anti-semita antes de estrear, o filme gerou muita expectativa, que se reflete
na bilheteria – nos Estados Unidos, já arrecadou US$ 200 milhões. Nada mau para
um longa-metragem falado em aramaico e latim.
Para Caviezel, no
entanto, aprender as línguas foi fácil perto do lado físico. O que poderia ser
considerado o papel dos sonhos de um ator se tornou pesadelo. Ele teve diversos
tipos de infecção, terríveis dores de cabeça e foi atingido por um raio. Mas
não se arrepende. De voz suave e belos olhos azuis, escondidos no filme por
lentes castanhas, o ator não gosta de falar sobre sua fé.
Acha que o filme é anti-semita?
O filme segue à risca o
Evangelho. Nós fomos ao Vaticano. João Paulo fez mais pelas relações entre
cristãos e judeus que qualquer outro papa na história. Se ele tivesse um
problema com o filme, teria dito.
Mas alguns falaram.
Alguns. Mesmo sendo
judeu, você é atacado por sua fé. Não importa de que religião você é, você
sofre ataques.
Há acusações de que Mel
Gibson é anti-semita.
Posso dizer que Mel
Gibson não é nem um pouco anti-semita. Pergunte a Maia (Morgenstern, que faz Maria
no filme), ela é judia e dirá que não há nenhum sinal de ele ser anti-semita.
As acusações são injustificadas.
Como você foi
escolhido?
Quando fui chamado para
o teste, me disseram que era um filme sobre surf. Mas Mel Gibson começou a
falar sobre o Evangelho. Depois de um tempo, disse a ele: “Você quer que eu
interprete Jesus?”. E ele respondeu: “Isso mesmo”.
Foi difícil aprender
aramaico e latim? Isso não foi o mais
difícil. A parte física foi muito pior.
Fazer o papel aumentou
sua fé? Certamente. Mel não me
contratou porque sou religioso. Ele pensou que eu era o
cara certo para o papel. Mas minha fé veio num
momento importante. Quando estava fazendo este filme, era importante que eu
rezasse. O que Cristo provavelmente faria? Cristo provavelmente rezaria. Então,
eu rezei.
Como era o processo de
maquiagem?
Nos períodos piores,
demorava das 2h da manhã até as 10h. Precisava ficar curvado, e eles aplicavam
a pele em mim. Era torturante, começou a me enfraquecer. Era difícil de engolir
a comida, sentia frio o tempo todo, desloquei o ombro, lutei contra a
hipotermia, sofri uma infecção no pulmão e uma pneumonia, tinha um corte de 35
centímetros nas minhas costas, esfolados e dores por causa das correntes, dores
de cabeça severas e infecções na pele – e, um dia, fui atingido por um raio.
Como aconteceu? Nós estávamos num
penhasco, nos preparando para rodar o Sermão da
Montanha e fui atingido por um raio. As pessoas começaram a
gritar e me contaram que eu tinha fogo nos dois
lados da cabeça e uma luz em volta de mim. Foi assustador.
Quanto você esteve
perto de não sobreviver? Muito perto. Usar a coroa parece
desconfortável. Era muito difícil.
Tinha dores de cabeça porque os espinhos eram presos por um fio na minha
cabeça, já que o vento era demais. E tinha de focar com meu olho fechado, o que
me levou a terríveis dores de cabeça também.
Quais foram os efeitos
em você? Foi muito cansativo.
Tinha de duas a três horas de sono por noite. Você começa a ficar louco e a
entrar em pânico. Não conseguia respirar, estremecia, não tinha paciência. E
tive essas dores de cabeça, que me atormentavam.
De quanta força física
você precisava para ficar na cruz? Tinha de ir à academia
depois da filmagem porque ia ficar na cruz o dia todo naquela posição estranha.
Precisava de força. Finalmente, quando estava na cruz, foi tão ruim que, na
hora em que digo, “Senhor, por que me abandonaste?”, eu realmente senti aquilo!
No subtexto, estava falando: “Você obviamente não se importa se eu faço este
filme ou não, quem sabe se você existe?”. Mas posso dizer que, passando por
tudo isso, compreendi muito profundamente que Ele existe. Eu o amo mais agora do
que nunca.
Mel disse que o
Espírito Santo esteve envolvido na produção do filme. Você acredita? Sem dúvida. Nós somos
ambos católicos romanos. Ele arrumou uma missa em latim para mim. Eu também
recebia todo dia a comunhão eucarística antes de filmar. Somente um dia eu não
a recebi e foi o dia do raio!
Por que receber a
comunhão eucarística todos os dias? Foi como eu me envolvi
com Cristo. É o que ele diz: este é meu corpo, dado por vós. Corpus Christi.
A mensagem do filme
evoca questões espirituais. Você conseguiu respostas? Me perguntaram muitas
questões espirituais, e eu não sou o tipo do cara que
pode respondê-las. Às vezes olho para as pessoas e digo: “Por que você
pergunta? Você quer saber as respostas ou quer encontrar algo para que possa me
apresentar como um maluco religioso?”. Minha fé em Jesus é verdadeira.
Onde você achou sua fé
verdadeira? Quando respondo a essa
questão, as pessoas sempre pensam: maluco religioso. Se não podem atacar a mensagem, atacam o
homem. O que eu posso dizer é: me tire disso, assista ao filme e veja se faz
algo por você. No final das contas, não é só um filme religioso. Quando você
vai ao Vaticano e olha a Pietá, você diz: “Só os católicos romanos podem ver a
Pietá, somente eles podem compreender?”. Não. É universal.
Pam Baker, da Brainpix
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