sábado, 9 de abril de 2016

A INTELIGÊNCIA DE CRISTO


Augusto Cury, psiquiatra e cientista, conta por que resolveu analisar a inteligência de Cristo e o que essas descobertas revelaram sobre a personalidade do homem que dividiu a história.

Cristo foi o mestre da sensibilidade. Conseguia perceber os sentimentos mais ocultos das pessoas que o rodeavam e, ao mesmo tempo, sabia proteger sua emoção quando as pessoas o frustravam. Ele viveu um ambiente agressivo e estressante, mas era livre, alegre e seguro no território da emoção. Por que Cristo, apesar de ter tido todos os motivos para adquirir depressão e ansiedade, não as teve?

Capacitado para responder essas e outras perguntas sobre a personalidade de Jesus de Nazaré, vista pelo prisma científico, o psiquiatra Augusto Jorge Cury estudou a fundo as reações do Mestre diante das mais diversas situações e lançou a coleção “Análise da Inteligência de Cristo”, dividida em “O Mestre dos Mestres”, “O Mestre da Sensibilidade”, “O Mestre da Vida”, “O Mestre do Amor” e “O Mestre Inesquecível”. Na série literária, o escritor, pós-graduado em Psicologia Social, com pesquisa na Espanha na área de Ciências da Educação, avalia a personalidade humana do personagem que dividiu a história.

Apesar de serem cinco livros com títulos diferentes, o enfoque central de todos eles é a habilidade que Jesus Cristo teve sobre suas emoções, para conduzi-las, organizá-las e dominá-las, quando necessário. Partindo da psicologia, Cury acredita ser Jesus a pessoa mais interessante que já passou por esta terra.

Além de psicanalista, o autor é psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e fundador do Instituto Academia de Inteligência, que promove seminários, cursos e treinamento sobre qualidade de vida e desenvolvimento da inteligência lógica, emocional e multifocal para empresas, profissionais liberais, educadores, psicólogos e público em geral.

Augusto Cury é também um dos mais conceituados autores de livros de auto-ajuda da atualidade. Entre seus sucessos estão “Inteligência Multifocal” e “Treinando a Emoção Para Ser Feliz”. O cientista também é autor de “Você é Insubstituível”, “Dez Leis Para Ser Feliz” e “Revolucione Sua Qualidade de Vida”. Ultimamente, seu livro “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes” circula entre os mais vendidos nas listas das mais conceituadas revistas brasileiras.

Suas obras são lançadas em vários países, adotadas em universidades e utilizadas em pesquisas e teses de pós-graduação em Psicologia, Sociologia e Ciências da Educação.

O que existe de particular na personalidade do homem Jesus Cristo?  Ele era harmonioso, manso, gentil, observador, simples, ousado, feliz, poético e inteligentíssimo. Nunca analisei alguém como Jesus Cristo. Algumas de suas características fogem completamente ao padrão psicológico previsível. Sua personalidade revelava uma sinfonia que rimava nos extremos. Ao prever sua morte, Ele, como qualquer ser humano, devia bloquear sua memória e reagir por instinto, expressando medo e ansiedade. Mas, para espanto da psiquiatria, Cristo abria as janelas da sua inteligência e gerenciava seus pensamentos como ninguém o fez na História.

E quais foram suas particularidades mais marcantes? Na sua natureza humana escondem-se as coisas mais belas e de que mais precisamos: a virtude em suportar infortúnios, o respeito ao direito que os outros têm de agir, a capacidade de superação do medo, a simplicidade, domínio próprio, o diálogo aberto, a capacidade de perceber o belo nas pequenas coisas.

Averigua-se bastante sobre o que Jesus teria feito entre os 12 e os 30 anos, quando iniciou sua trajetória pública. Na sua opinião, o que aconteceu com ele naquele período?  A pergunta é tão complexa que perturbou teólogos e pensadores de todos os séculos. Dos 12 aos 30 anos, Jesus não viajou para outras regiões em busca de conhecimento. Ele ficou nas imediações de Nazaré por 18 anos e, nesse período, investigou, em segredo, o seu próprio ser, analisou suas experiências e as limitações humanas. Ele aprendeu a ser um homem espetacular. Foi o Mestre dos mestres porque soube aprender. Conhecer um fato é diferente de vivê-lo. Como Deus, Ele conhecia a ansiedade, a discriminação social e as aflições humanas, mas nunca as tinha vivido.

Em que momento Ele foi unicamente humano? Jesus tinha aflições humanas quando suas experiências eram totalmente humanas, como cair, alcançar pessoas, ser repudiado, superar sua angústia no Getsemani; mas tinha a certeza divina nas questões que envolviam sua natureza transcendental. Por isso, discorria sobre a superação da morte e sobre a eternidade com uma convicção que deixa perplexo até os mais racionais cientistas.

Cristo era um homem “do povo” e atraía as multidões. Na Bíblia, podemos vê-lo rodeado de seguidores, pessoas interesseiras e até bajuladores, em certas situações. Como Ele lidava com isso? Todo ser humano tem limites, devendo cuidar da qualidade de vida para não prejudicar sua saúde. Costumamos viver extremamente estressados e com diversos sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça e musculares, cansaço. Esses sintomas se devem à tensão diária, trabalho excessivo e responsabilidades sociais. Jesus não era diferente. Todos os dias, pesava sobre ele a responsabilidade de resgatar a humanidade para Deus. Ele era incomodado, discriminado e, ainda por cima, tinha que desculpar e ser tolerante, não apenas com seus inimigos, mas também com seus amigos. Os discípulos não enxergavam seu plano metafísico e freqüentemente discutiam e entravam em disputa. Mas, pelo fato de saber filtrar tais estímulos, além de proteger sua emoção, Jesus tornou-se uma pessoa tranquila, capaz de convidar as pessoas a aprender com Ele a arte da mansidão.

E o que dizer sobre o impreciso assédio feminino? Com respeito à sexualidade, Jesus superou seus instintos porque o amor que fluía do seu ser transcendia ao prazer da sexualidade. Além disso, Ele nunca se encontrava com mulheres em lugares fechados ou isolados, mas em lugares públicos, abertos. Ele amou muito cada ser humano, inclusive as prostitutas, e cuidou para nunca ferisse a consciência de ninguém.

Muita gente, baseada em representações artísticas, acredita que Jesus foi uma pessoa frágil e sofredora. Tal conceito corresponde ao que Ele era? Tenho convicção de que não. Jesus transbordava alegria, gostava de festas. Ao redor de uma mesa, Ele disse belíssimas palavras. Do ponto de vista psiquiátrico, eu não creio que seja possível se ter uma emoção mais alegre, serena e estruturada como a de Jesus Cristo.

O que o levou a escrever a coleção “Análise da Inteligência de Cristo”? Poucas pessoas foram tão longe no ateísmo como eu. Por pesquisar a construção de cadeias de pensamentos e a gênese dos conflitos humanos, eu considerava Deus, bem como Jesus Cristo, como desculpa do cérebro que não aceitava seu fim. Para mim, Deus era um produto imaginário da psiquê, para aliviar sua dor diante das frustrações e perdas existenciais e da inevitabilidade da morte. Mas duas coisas mudaram meu pensamento. Primeiramente, ao estudar exaustivamente o funcionamento da mente humana, descobri que ela tem fenômenos que superam os limites da lógica. Para produzir um pensamento, entramos na memória e em meio a trilhões de opções resgatamos verbos, substantivos e pronomes, sem saber como fazemos. A construção de cadeias de pensamentos não pode ser explicada pelo universo físico-químico cerebral, pelo computador biológico do cérebro. Compreendi que só a existência de um Deus fantástico poderia explicar o anfiteatro da nossa inteligência. O segundo momento foi o estudo das reações, dos pensamentos e das entrelinhas das idéias de Jesus. Compreendi que era impossível que Ele fosse fruto de uma ficção. Nenhum autor poderia construir uma personalidade como a d’Ele, que ultrapassa os limites da previsibilidade psicológica. Amá-lo não é apenas um ato de fé, mas uma decisão de muita inteligência.

É possível fazer tal estudo baseado, exclusivamente, nas informações contidas nos Evangelhos? Os relatos bíblicos não conteriam narrativas com elementos fantásticos demais? Há mais de cinco mil manuscritos do Novo Testamento existentes até hoje, o que o torna o mais bem documentado dos escritos antigos. Muitas cópias pertencem a uma data próxima dos originais. Todos esses dados, somados ao trabalho intelectual produzido pelos estudiosos da paleografia, arqueologia e crítica textual, nos asseguram de que possuímos um texto fidedigno do Nov Testamento. É necessário imergir no próprio texto e interpretá-lo de maneira multifocal e isenta, tanto quanto possível, de paixões e tendências. Foi o que procurei fazer. Questionei os mais diversos níveis de coerência intelectual dos autores dos Evangelhos e dos textos que escreveram.

Nas suas obras, o senhor fala sobre intenções conscientes e inconscientes dos autores dos Evangelhos, para provar que o personagem Jesus não seria apenas uma criação literária. Quais eram essas intenções? Os autores dos Evangelhos não tinham a intenção de fundar uma filosofia de vida, de promover um herói político, ou construir um líder religioso – nem mesmo criar um homem diante do qual o mundo deveria se curvar. Queriam registrar fatos, mesmo que incompreensíveis, de uma pessoa que revolucionou suas vidas e os ensinou a linguagem do amor. Se os Evangelhos fossem frutos da imaginação literária desses autores, eles não falariam mal de si mesmos, não comentariam a atitude vexatória que tiveram ao negá-lo, como fez Pedro. Eles teriam mesmo escondido a angústia de Cristo, que clamava ao seu Pai para que afastasse de si seu cálice.

Jesus tinha uma forma própria de transmitir conhecimento aos seus discípulos. O senhor afirma, em suas obras, que muitos desses pressupostos estão sendo desprezados pelos educadores modernos. Por quê? Estariam ultrapassados? Jesus não enfileirava seus discípulos, mas os fazia sentar ao redor de si e os instigava a desenvolver a arte de pensar. Ele era, sim, um excelente contador de histórias. Usava a arte da dúvida. Através de perguntas sistemáticas, fazia abrirem-se as janelas da mente dos seus discípulos. Atuava nos papéis de memória através de gestos e reações surpreendentes. Essas e outras técnicas psicopedagógicas que Ele usou produziram pensadores, e não servos; homens livres, e não dominados. Jesus mesclava a sua história com a dos discípulos. Ele eliminava todas as barreiras entre eles. Discorria até sobre suas angústias.

Se ainda vivesse, como homem, no meio de nós, como Jesus Cristo seria visto pela psicologia moderna?Nos dias de hoje, as palavras de Jesus não apenas abalariam os alicerces da psiquiatria, mas também das ciências, da educação. Ele deixava atônitas suas plateias. Seus discípulos não tinham cultura, eram agressivos, competitivos, reagiam sem pensar. Ele escolheu a pior estirpe de homens para segui-lo e os transformou não apenas em discípulos, mas na casta mais nobre de pensadores.

Alguns teólogos defendem a idéia de que Jesus não teria realizado milagres ou só teria feito alguns deles, que poderiam ser explicados naturalmente pela ciência. Sem a manifestação de poder sobrenatural, Ele teria conseguido exercer tamanha influência na sociedade de sua época? Analisando as biografias de Cristo, me convenci de que os milagres que Ele realizou não foram eloqüências literárias, nem delírio coletivo, e muito menos ilusão das pessoas que o cercavam. Ele fez coisas inimagináveis. Se Einstein estivesse lá analisando a maneira como Jesus manipulava os fenômenos físicos, teria de rever a teoria da relatividade. Mas Jesus mudou a história da humanidade muito mais pelo seu comportamento do que pelos seus milagres. Por exemplo, quando Pedro o negou pela terceira vez, o Mestre, embora estivesse ferido e mutilado, esqueceu sua dor e fitou-o com um olhar. Pedro disse que não o conhecia e Jesus, com um olhar, revelou que jamais o esqueceria. São esses comportamentos, que muitas vezes passam despercebidos, que revelam uma pessoa surpreendente.

Alguns estudiosos acreditam que Cristo sofria depressão, baseados em comportamentos como o que teve no jardim do Getsemani. O senhor concorda? A depressão é o último estágio da dor humana. Só cabe o seu drama que já a viveu. Jesus não teve depressão no Getsêmani, mas uma reação depressiva intensa que durou horas. Ele antecipou seu martírio e o vivenciou na sua mente. Fez isso para se preparar para suportar o que viria. Ele iria ser espancado, mutilado e crucificado, e mesmo assim teria de agir com mansidão, doçura e perdão, como um cordeiro. Era uma exigência insuportável. O estado de estresse a que estava submetido foi tão violento que ele teve um sintoma psicossomático raríssimo na medicina, chamado hematidrose, que é o suor sanguinolento. Ele sofreu em poucas horas mais do que qualquer pessoa numa grave crise depressiva. Só que, diferentemente da grande maioria das pessoas, inclusive intelectuais e líderes cristãos, Ele não escondeu a sua dor, mas a compartilhou com Pedro, Tiago e João, mesmo sabendo que eles o abandonariam horas depois. Com tal gesto, Ele nos mostrou que não podemos maquiar nosso sofrimento, mas devemos sempre ter alguns amigos para poder dividi-lo. Infelizmente, não poucos pastores, padres, executivos e médicos se calam diante da sua dor, se destroem e até cometem suicídio porque têm vergonha de falar dos seus sentimentos.

No meio evangélico, muito se discute sobre a incompatibilidade entre a psicologia e a fé cristã. Acredita-se que o crente não precisa de assistência psicológica, visto que sua fé em Deus seria capaz de eliminar todos os problemas. Qual sua opinião sobre esse debate? No fundo, todos nós estamos doentes em nossa psique; todos temos transtornos emocionais. Podemos não estar doentes por doenças catalogadas na psiquiatria e na psicologia, tais como a síndrome do pânico, a depressão, o transtorno obsessivo, a fobia social. Mas estamos doentes em nossa capacidade de amar, respeitar, dialogar, tolerar erros, superar a solidão, vencer a culpa, governar nossos pensamentos, gerenciar nossa irritabilidade. Jesus nunca fez milagres na alma, mas somente no mundo físico e no corpo humano. Algumas doenças, como fobias ou conflitos sociais, resolvem-se mais rapidamente; mas outras, como os transtornos obsessivos, que são idéias fixas, têm solução muito mais lenta. Quem não conseguir superar uma doença psíquica através de sua fé deve procurar ajuda, sem medo ou culpa.

Então, qual deve ser o papel do terapeuta cristão? Um bom psiquiatra ou psicólogo não faz milagre na personalidade das pessoas – apenas leva o paciente a usar as próprias ferramentas da sua psique, que foram criadas por Deus, para que ele deixe de ser vítima e passe a ser autor da sua história.

O senhor acredita que o crente tem mais possibilidade de ser feliz? Alguém que pratica a fé tem mais possibilidade de ser saudável e feliz. Alguém que incorpora as características da humanidade de Jesus Cristo transforma a sua vida num canteiro de segurança e liberdade. Mas ninguém tem um jardim sem espinhos, uma estrada sem obstáculos. Não há gigantes na alma humana; todos somos aprendizes e sujeitos a conflitos. Mas quem passa por um conflito e o supera torna-se mais belo interiormente e pode ser mais útil para Deus e para os homens.

Além da coleção “Análise da Inteligência de Cristo”, o senhor é autor de outras obras, como “Revolucione Sua Qualidade de Vida”, na qual analisa diversos tipos de doenças e fobias. Por que livros como esses, que podem ser classificados na categoria chamada auto-ajuda, têm feito tanto sucesso, inclusive no mercado evangélico? À medida que se deteriora a qualidade de vida nas sociedades modernas, as pessoas, incluindo os cristãos, procuram ansiosamente por informações que as ajudem. É isso que promove o sucesso dos livros de auto-ajuda. Embora alguns dos meus livros estejam classificados na categoria de auto-ajuda, eles são de divulgação científica. Valorizo o desenvolvimento do pensamento mais profundo. Cristo foi quem foi por ser mestre em ajudar as pessoas dessa forma. E Ele é muito maior do que nossa religiosidade consegue imaginar.

www.luzparaospovos.org.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário